sexta-feira, fevereiro 10, 2017

Profissão: Ladrão, de Michael Mann ****

Dá para dizer que tudo aquilo que o diretor norte-americano Michael Mann depurou em termos de linguagem cinematográfica autoral ao longo dos últimos 35 anos já estava delineado de maneira magistral em “Profissão: Ladrão” (1981). E não somente dentro dessa perspectiva própria, pois o filme em questão dá a impressão de ser um dos moldes clássicos na formatação do cinema policial dos anos 80. Mann usa algumas referências básicas, como a construção psicológica seca e precisa típica de Jean-Pierre Melville e as cenas de ação em câmera lenta de Sam Peckinpah, e acrescenta detalhes cênicos e narrativos característicos do seu estilo. O resultado final dessa equação é antológico. É como se o gênero policial fosse descarnado até a sua essência, retirando o supérfluo e ficando apenas uma narrativa direta e concisa, mas que ainda assim preserva a profundidade na caracterização dos personagens, a coreografia precisa na ação cinematográfica e uma atmosfera sóbria e melancólica. A edição se alterna com perfeição entre o teor frenético dos cortes rápidos nas sequências de pancadaria e tiroteio e a dinâmica serena nas cenas intimistas e naquelas envolvendo os detalhistas roubos articulados e executados pelo protagonista Frank (James Caan), com a tensão dramática de tais tomadas serem bem pontuadas com a climática trilha sonora do Tangerine Dream. O conjunto geral de todas essas soluções artísticas mostra que há tempos Mann pode ser considerado um dos talentos mais singulares do cinema norte-americano contemporâneo

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