Dá para dizer que tudo aquilo que o diretor
norte-americano Michael Mann depurou em termos de linguagem cinematográfica
autoral ao longo dos últimos 35 anos já estava delineado de maneira magistral
em “Profissão: Ladrão” (1981). E não somente dentro dessa perspectiva própria,
pois o filme em questão dá a impressão de ser um dos moldes clássicos na
formatação do cinema policial dos anos 80. Mann usa algumas referências
básicas, como a construção psicológica seca e precisa típica de Jean-Pierre
Melville e as cenas de ação em câmera lenta de Sam Peckinpah, e acrescenta
detalhes cênicos e narrativos característicos do seu estilo. O resultado final
dessa equação é antológico. É como se o gênero policial fosse descarnado até a
sua essência, retirando o supérfluo e ficando apenas uma narrativa direta e
concisa, mas que ainda assim preserva a profundidade na caracterização dos
personagens, a coreografia precisa na ação cinematográfica e uma atmosfera
sóbria e melancólica. A edição se alterna com perfeição entre o teor frenético
dos cortes rápidos nas sequências de pancadaria e tiroteio e a dinâmica serena
nas cenas intimistas e naquelas envolvendo os detalhistas roubos articulados e
executados pelo protagonista Frank (James Caan), com a tensão dramática de tais
tomadas serem bem pontuadas com a climática trilha sonora do Tangerine Dream. O
conjunto geral de todas essas soluções artísticas mostra que há tempos Mann
pode ser considerado um dos talentos mais singulares do cinema norte-americano
contemporâneo
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