Talvez o grande acerto artístico do diretor John Madden para
“Armas na mesa” (2016) foi a escolha de Jessica Chastain para o papel da
protagonista Elizabeth Sloane. A atriz tem uma forte presença cênica, dominando
o filme de ponta a ponta com uma interpretação repleta de nuances dramáticas.
Esse fator faz com que alguns convencionalismos excessivos do formalismo
concebido por Madden e os exageros simplistas de passagens do roteiro acabem
sendo atenuados. A obra se pretende como uma visão crítica sobre os bastidores
da política norte-americana e do conservadorismo e hipocrisia de grande parte
da sociedade dos Estados Unidos, principalmente no que diz respeito à
irresponsável legislação sobre armas que permite eventos bárbaros como massacres
em escolas e atentados terroristas. Por vezes, a trama consegue traçar um
retrato contundente sobre a forma como moralismo cego e interesses políticos e econômicos
escusos se fundem e geram um distorcido status quo. Ou seja, uma abordagem em
perfeita sintonia com o nosso tempo, considerando que Donald Trump se encontra
no comando da Casa Branca. Falta à produção, entretanto, um senso narrativo e
um delineamento de história mais ousados. Os arroubos melodramáticos do roteiro
e a assepsia estética de algumas sequências só conseguem se sustentar com um
mínimo de credibilidade pela atuação cheia de convicção de Chastain e pelo
caráter simbólico de determinadas situações da trama (principalmente pelo fato
das escolhas de Sloane a levarem à cadeia e execração pública funcionarem como
uma espécie de expiação pessoal deliberada da personagem).
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