As premissas da trama e mesmo o aparente subtexto de “Toni
Erdmann” (2016) podem sugerir um aparente convencionalismo formal-temático, em
que a história do relacionamento difícil entre Winfried (Peter Simonischek), um
extrovertido e meio amalucado aposentado, e sua filha Ines (Sandra Hüller),
executiva de uma consultoria internacional, se relaciona de forma simbólica, e
por vezes até mesmo direta, com o cenário sócio-político de avanço do poder
econômico de grandes corporações e a precarização das relações de trabalho no
continente europeu (e por tabela, do resto do mundo). Ocorre, entretanto, que
de forma sutil no desenrolar da narrativa a diretora Maren Ade vai
descontruindo essa concepção artística tradicional através de insólitos truques
estéticos e episódios desconcertantes no roteiro. Há avanços abruptos no
aspecto temporal da trama, como se o filme buscasse uma narrativa descarnada e
direta, além de uma atmosfera de constante estranhamento, em que os clichês do
gênero melodrama são pervertidos com cruel ironia em um clima de comédia de
absurdo. No primeiro terço da obra, tais soluções artísticas da cineasta
demoram a apresentar uma fluência narrativa, mas lá pela metade do filme a
esquisitice e o inesperado tomam conta de vez, fazendo com que “Toni Erdmann”
se desenvolva numa ambientação algo alucinada, por vezes até beirando o
nonsense, ainda que encenação e montagem tenham uma execução metódica e sem
sobressaltos. Dentro dessas particulares concepções, o grande ápice criativo da
produção é a antológica sequência da festa de aniversário de Ines, em que a
personagem surta de vez, evidenciando uma sensação de perplexidade diante do
absurdo da condição humana no mundo contemporâneo.
Um comentário:
Muito show o filme
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