quarta-feira, fevereiro 22, 2017

Amaldiçoado, de Alexandre Aja ***

A premissa da trama de “Amaldiçoado” (2013) desperta considerável curiosidade – suspeito de ter estuprado e assassinado a namorada (Juno Temple), Ignatius Perrish (Daniel Radcliffe) acorda em uma manhã com chifres que fazem com que quem esteja ao seu lado revele as verdades mais escabrosas. O fato da história se passar numa cidadezinha interiorana norte-americana acentua ainda mais a carga metafórica do roteiro, em que o microverso em polvorosa da localidade parece refletir o lado de podridão do american way of life. O diretor francês Alexandre Aja por vezes consegue acertar o tom dessa esquisita narrativa que sintetiza drama policial, horror e fábula, formatando um perverso conto moral. Por outro lado, há momentos em que o filme se perde em excessos melodramáticos e mesmo nos convencionalismos do gênero suspense, além do seu elenco enveredar em algumas atuações inexpressivas (Daniel Radcliffe não consegue perder o seu eterno ar abobalhado de Harry Potter). O mais acertado seria Aja ter mantido uma atmosfera ambígua de maneira mais constante, o que tornaria mais contundente a sua radiografia das hipocrisias obscurantistas da sociedade ocidental. Ainda assim, o cineasta demonstra forte inventividade visual em determinadas sequências e também o seu pendor na construção de ambientações perturbadoras de sordidez, qualidades que ele já havia demonstrado nos extraordinários “Alta tensão” (2003) e “Viagem maldita” (2006).

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