Há um momento no documentário “Sobre amanhã” (2014) em que
Edu K fala que nunca gostou de ensaiar muito com a sua banda DeFalla com medo
de que tudo soasse muito perfeito, pois na lógica artística da banda sempre
teria de haver algo “ruim” ou tosco na música concebida e executada por eles.
Dentro de tal concepção, o filme dirigido por Diego de Godoy e Rodrigo
Pesavento mostra sintonia existencial com a proposta do DeFalla. A narrativa
demora até um pouco para se encontrar, com o terço inicial da obra ficando
muito preso a um ranço jornalístico – há um excesso de informações que são
atiradas como se o espectador assistisse a uma reportagem metida à espertinha
da antiga MTV. Com o tempo, entretanto, o filme ganha mais consistência formal
e temática, quando começa a deixar mais claro os dilemas e contradições que
marcaram a trajetória do DeFalla, assim como consegue traçar um panorama
histórico-cultural expressivo ao contextualizar o ambiente que cercava a banda.
Os diretores incorporam a precariedades de alguns registros audiovisuais de
arquivo como se fizessem parte da uma estética suja e esculachada que remete à
própria sonoridade do grupo de Edu K e companhia. Tal abordagem narrativa dá à “Sobre
amanhã” um certo encanto e sensorial e também valoriza a peculiar e
transgressora arte de seus protagonistas, mostrando as várias facetas e fases de
banda (o início new wave, a equação antológica de rock-funk-barulho dos dois
primeiros discos, o peso descomunal na época dos shows do Teatro Presidente, a
retomada nessa década da formação clássica) em sequências de performances
memoráveis.
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