A diretora Leyla Bouzid usa uma estrutura narrativa básica
em “Assim que abro meus olhos” (2016) de drama intimista para desenvolver o
típico roteiro de uma adolescente na fase de descobertas sentimentais e que se
encontra nos habituais conflitos de gerações com os seus pais. Ocorre,
entretanto, que a trama tem como pano de fundo a Tunísia da época da primavera
áraba, marcada pela tradicional repressão política-religiosa dos países
islâmicos. Esse componente social se insere na história de maneira sutil – os temores
da mãe da protagonista Farah (Baya Medhaffer) não se manifestam de forma
expressa, mas a apreensão do seu olhar denuncia um ambiente de opressão e
intolerância. A abordagem formal e emocional concebida por Bouzid é marcada por
uma bem-vinda contenção dramática que impede que a produção caia em maiores
excessos melodramáticos. Sua encenação também é um aspecto positivo do filme,
principalmente quando mostra a rotina de Farah movida a sexo, cerveja e rock
and roll. Nesse último aspecto, um dos grandes atrativos de “Assim que abro
meus olhos” são os números musicais com a banda da protagonista, sequências que
ressaltam tanto uma dinâmica desenvoltura cênica quanto uma musicalidade
inebriante que mistura de maneira singular natural ritmos regionais e
influências ocidentais.
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