quinta-feira, fevereiro 16, 2017

Assim que abro meus olhos, de Leyla Bouzid ***

A diretora Leyla Bouzid usa uma estrutura narrativa básica em “Assim que abro meus olhos” (2016) de drama intimista para desenvolver o típico roteiro de uma adolescente na fase de descobertas sentimentais e que se encontra nos habituais conflitos de gerações com os seus pais. Ocorre, entretanto, que a trama tem como pano de fundo a Tunísia da época da primavera áraba, marcada pela tradicional repressão política-religiosa dos países islâmicos. Esse componente social se insere na história de maneira sutil – os temores da mãe da protagonista Farah (Baya Medhaffer) não se manifestam de forma expressa, mas a apreensão do seu olhar denuncia um ambiente de opressão e intolerância. A abordagem formal e emocional concebida por Bouzid é marcada por uma bem-vinda contenção dramática que impede que a produção caia em maiores excessos melodramáticos. Sua encenação também é um aspecto positivo do filme, principalmente quando mostra a rotina de Farah movida a sexo, cerveja e rock and roll. Nesse último aspecto, um dos grandes atrativos de “Assim que abro meus olhos” são os números musicais com a banda da protagonista, sequências que ressaltam tanto uma dinâmica desenvoltura cênica quanto uma musicalidade inebriante que mistura de maneira singular natural ritmos regionais e influências ocidentais.

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