O cinema do diretor iraniano Asghar Farhadi se formata
dentro de uma fórmula temática e narrativa simples – a partir de uma estrutura
de melodrama, as obras se configuram aos poucos como parábolas morais, em que
determinadas situações de roteiro adquirem um caráter simbólico ao retratar a
repressão religiosa, moral e política no Irã contemporâneo. “O apartamento”
(2016) é mais um trabalho de Farhadi que segue esse método. O cineasta não
recorre tanto aos truques estéticos e emocionais inerentes a esse tipo de obra,
sendo que em boa parte da narrativa predomina a sobriedade e até uma secura na
forma que a trama e os personagens vão se delineando, além da bela sacada textual
de relacionar o desenvolvimento da história com a encenação da montagem da peça
“A morte de um caixeiro viajante”, mostrando os paralelos entre as duas
narrativas no que tange a temática das hipocrisias sociais e econômicas a
oprimir os indivíduos. A tensão dramática consegue ser constante e por vezes
até perturbadora, e o fato da abordagem objetiva habitual da direção de Farhadi
ser mantida preserva a complexidade e a dureza dos dilemas e contradições presentes
no roteiro. Ainda que seja admirável essa coerência artística e existencial,
incomoda em “O apartamento” a falta de sequências em que haja alguma
transcendência maior em termos de linguagem cinematográfica, e que se acentua
ainda mais pelo convencionalismo excessivo que predomina no terço final do
filme. Não há aquela ousadia e mesmo sensibilidade artísticas que tornam tão
peculiares as obras de outros diretores de seu país, como Jafar Panahi e Abbas
Kiarostami.
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