Dentro do atual panorama mundial das animações, “A tartaruga
vermelha” (2016) tem uma concepção artística que a coloca naquele nicho “fora
do tempo e do espaço”. Seu roteiro possui um forte tom fabular, enquanto que a
técnica de seu grafismo remete mais à escola tradicional europeia de décadas passadas
– é de se reparar, por exemplo, que as expressões faciais dos personagens
lembram alguns filmes de Tintin. O resultado final de tais opções criativas do
diretor holandês Michael Dudok de Wit, entretanto, estão bem distantes do mero
anacronismo ou nostalgia. A narrativa é repleta de sutilezas estéticas e
temáticas e avança de forma serena. A trama não se prende a maiores explicações
sobre origens de personagens ou explicações para certos eventos fantasiosos – o
que importa é quase que exclusivamente o universo daquela ilha em que o
protagonista náufrago passará boa parte de sua vida, em que uma estranha
relação entre a natureza e a magia se dá de forma natural e com bizarra
coerência. O roteiro repleto de simbologias simples e marcantes é embalado por
um traço preciso, que sintetiza de maneira extraordinária estilização e
realismo. Nesse sentido, não como não destacar as antológicas sequências da
tempestade no meio do oceano no início do filme e do tsunami que devasta boa
parte da ilha, momentos de grande e assustador impacto sensorial (em função
disso, é bem recomendável que se assista ao filme em uma sala de cinema). Por
outro lado, há também momentos memoráveis devido a delicadas nuances visuais
que sugerem ao espectador um olhar mais atento e contemplativo. A bela e
melancólica conclusão de “A tartaruga vermelha” reforçam ainda mais o caráter
atemporal da produção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário