terça-feira, março 07, 2017

A tartaruga vermelha, de Michael Dudok de Wit ***1/2

Dentro do atual panorama mundial das animações, “A tartaruga vermelha” (2016) tem uma concepção artística que a coloca naquele nicho “fora do tempo e do espaço”. Seu roteiro possui um forte tom fabular, enquanto que a técnica de seu grafismo remete mais à escola tradicional europeia de décadas passadas – é de se reparar, por exemplo, que as expressões faciais dos personagens lembram alguns filmes de Tintin. O resultado final de tais opções criativas do diretor holandês Michael Dudok de Wit, entretanto, estão bem distantes do mero anacronismo ou nostalgia. A narrativa é repleta de sutilezas estéticas e temáticas e avança de forma serena. A trama não se prende a maiores explicações sobre origens de personagens ou explicações para certos eventos fantasiosos – o que importa é quase que exclusivamente o universo daquela ilha em que o protagonista náufrago passará boa parte de sua vida, em que uma estranha relação entre a natureza e a magia se dá de forma natural e com bizarra coerência. O roteiro repleto de simbologias simples e marcantes é embalado por um traço preciso, que sintetiza de maneira extraordinária estilização e realismo. Nesse sentido, não como não destacar as antológicas sequências da tempestade no meio do oceano no início do filme e do tsunami que devasta boa parte da ilha, momentos de grande e assustador impacto sensorial (em função disso, é bem recomendável que se assista ao filme em uma sala de cinema). Por outro lado, há também momentos memoráveis devido a delicadas nuances visuais que sugerem ao espectador um olhar mais atento e contemplativo. A bela e melancólica conclusão de “A tartaruga vermelha” reforçam ainda mais o caráter atemporal da produção.

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