quarta-feira, março 29, 2017

Super, de James Gunn ***1/2

A premissa inicial da trama de “Super” (2010) nem chega a ser exatamente uma grande novidade: depois de alguns desgostos pessoais, o pacato Frank (Rainn Wilson) decide se tornar um vigilante uniformizado pronto para combater o crime. O grande diferencial do filme está na abordagem do diretor James Gunn para essa pequena e um tanto ridícula “saga”. Não há grandes efeitos especiais e nem coreografias espetaculares de lutas – a narrativa envereda mais por um misto de humor negro de comicidade perturbada, escatologia e violência explicitas e caracterização psicológica marcada pela crueza. A atmosfera do filme se alterna entre o sombrio e o sórdido, enquanto a encenação também mostra um caráter ambíguo na combinação entre realismo e exagero escrachado. Em meio as sequências de explosões grotescas de brutalidade e delírios metafísicos, há um contundente subtexto de reflexão sobre a solidão e o vazio existencial do indivíduo na sociedade ocidental contemporânea. Nesse sentido, “Super” se mostra uma produção singular na forma com que entrelaça o aspecto de ser bem divertida na sua síntese de comédia tresloucada e ação casca-grossa com uma visão existencial bastante arguta na sua ácida lucidez.

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