terça-feira, março 14, 2017

Jovens, loucos e mais rebeldes, de Richard Linklater ***1/2

As comédias “estudantis”, formato que trazia obras cômicas que retratavam o cotidiano de jovens classe média em meio a confusões pueris e descobertas sexuais, se consolidaram como expressivo gênero cinematográfico no final da década de 70 e boa parte dos anos 80, vide obras como “Clube dos cafajestes” (1978) e “Porky’s” (1982). O diretor Richard Linklater realiza em “Jovens, loucos e mais rebeldes” (2015) uma recriação bastante particular desse universo. Estão lá no filme boa parte dos elementos narrativos inerentes ao gênero, mas o que diferencia a abordagem de Linklater é a sua encenação sutil e levemente reflexiva e o estabelecimento de um contexto existencial mais amargo e irônico. Situada em 1980, a trama se concentra nos últimos dias que antecedem o começo das aulas em um campus universitário. Há algo de solene na forma com que Linkater marca o decurso do tempo, como se o passar das horas indicasse os últimos momentos de inocência e de uma saudável alienação por parte do protagonista Jake (Blake Jenner) antes que a rotina de obrigações estudantis e sociais se concretize. Nesse viés, ainda que o verniz aparente seja de homenagem a um determinado estilo de filme, há também uma intenção de fazer uma dessacralização do gênero focado. Em meio a esse subtexto mais profundo e às discretas ousadias do diretor, o filme também sabe preservar as qualidades desse tipo de comédia: ótimas sequências cômicas, personagens carismáticos e a preservação carinhosa do velho ideário “sexo, drogas e rock and roll”.

Nenhum comentário: