quarta-feira, março 08, 2017

Eu, Olga Hepnarová, de Petr Kazda e Tomás Weinreb ***

As opções estéticas dos diretores Petr Kazda e Tomas Weinreb para enquadrarem a narrativa de “Eu, Olga Hepnarová” (2016) são coerentes com as intenções temáticas da obra. A rigorosa fotografia em preto e branco, a sufocante atmosfera de aridez emocional e o roteiro que beira o fragmentado são elementos que que conseguem traduzir de maneira expressiva todo o contexto social e intimista que levou a protagonista-título (Michalina Olszanska) a cometer o brutal crime de homicídios múltiplos – aliás, tal história é baseada em fatos reais. Não que a trama leve necessariamente a justificar os atos extremos da personagem principal e nem pretenda se mostrar simpática a ela. O registro formal-existencial da produção é simplesmente objetivo, por vezes beirando uma perturbadora frieza, o que faz com que o filme se afaste de moralismos e maniqueísmos fáceis, e enverede mais pelo lado de retratar a forma com que uma sociedade de caráter opressivo e as hipocrisias da família tradicional se revelam incapazes de lidar com o diferente e o destoante, fomentando ainda mais a distorção dos valores que tanto alegam defender. Para ilustrar tal visão de mundo, a concepção artística dos cineastas se configura como uma linguagem síntese entre o naturalismo e o didático – ainda que de uma desoladora dureza audiovisual, o resultado final é de inegável eficiência narrativa.

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