As opções estéticas dos diretores Petr Kazda e Tomas Weinreb
para enquadrarem a narrativa de “Eu, Olga Hepnarová” (2016) são coerentes com
as intenções temáticas da obra. A rigorosa fotografia em preto e branco, a sufocante
atmosfera de aridez emocional e o roteiro que beira o fragmentado são elementos
que que conseguem traduzir de maneira expressiva todo o contexto social e
intimista que levou a protagonista-título (Michalina Olszanska) a cometer o
brutal crime de homicídios múltiplos – aliás, tal história é baseada em fatos
reais. Não que a trama leve necessariamente a justificar os atos extremos da
personagem principal e nem pretenda se mostrar simpática a ela. O registro formal-existencial
da produção é simplesmente objetivo, por vezes beirando uma perturbadora frieza,
o que faz com que o filme se afaste de moralismos e maniqueísmos fáceis, e
enverede mais pelo lado de retratar a forma com que uma sociedade de caráter
opressivo e as hipocrisias da família tradicional se revelam incapazes de lidar
com o diferente e o destoante, fomentando ainda mais a distorção dos valores
que tanto alegam defender. Para ilustrar tal visão de mundo, a concepção
artística dos cineastas se configura como uma linguagem síntese entre o
naturalismo e o didático – ainda que de uma desoladora dureza audiovisual, o resultado
final é de inegável eficiência narrativa.
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