A ideia para uma continuação de “Trainspotting” (1996) não
chega a ser meramente oportunista. Pelo fato de ser uma produção bastante
emblemática para a época, era natural que houvesse uma expectativa para ver
como os principais personagens estariam enquadrados dentro das contradições,
dilemas e conflitos típicos da atualidade (e que de certa forma são decorrentes
de tais elementos correspondentes da década de 90). O resultado final de “T2:
Trainsportting” (2017), entretanto, é bem decepcionante. É claro que seria
difícil chegar no mesmo nível do primeiro filme, uma das grandes obras-primas
do cinema das últimas décadas. Mas a abordagem artística escolhida pelo diretor
Danny Boyle foi equivocada em suas concepções e falha na sua realização. Ao
invés daquela formatação original de comédia dramática de atmosfera ambígua,
hedonista e algo delirante, essa produção mais recente se desenvolve como um
melodrama mais convencional, moralista e beirando o sentimentalismo excessivo,
ainda que Boyle insira na narrativa alguns maneirismos estéticos “moderninhos”.
É claro que existem aspectos positivos que dão uma certa aura carismática para
o filme: algumas sequências são bem divertidas na sua síntese de comicidade
ácida e violência gráfica, a trilha sonora cancioneira é excelente e foge do
óbvio, o quarteto principal de personagens conta com ótimas caracterizações
dramáticas. Mas são detalhes isolados que acabam engolidos pela estética
preguiçosa e por um roteiro que se rende a soluções conservadoras e previsíveis.
Por vezes o espectador pode até dar umas risadas ou ficar tenso em algumas
passagens mais expressivas, mas a sensação geral é de indiferença diante da
apatia criativa do trabalho de Boyle. Provavelmente, deve ser por isso que ao
longo da narrativa são exibidos vários trechos do primeiro filme, como se fosse
necessário lembrar da importância artística da obra de 1996 diante da
irrelevância de “T2”.
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