quinta-feira, março 30, 2017

T2: Trainspotting, de Danny Boyle **1/2

A ideia para uma continuação de “Trainspotting” (1996) não chega a ser meramente oportunista. Pelo fato de ser uma produção bastante emblemática para a época, era natural que houvesse uma expectativa para ver como os principais personagens estariam enquadrados dentro das contradições, dilemas e conflitos típicos da atualidade (e que de certa forma são decorrentes de tais elementos correspondentes da década de 90). O resultado final de “T2: Trainsportting” (2017), entretanto, é bem decepcionante. É claro que seria difícil chegar no mesmo nível do primeiro filme, uma das grandes obras-primas do cinema das últimas décadas. Mas a abordagem artística escolhida pelo diretor Danny Boyle foi equivocada em suas concepções e falha na sua realização. Ao invés daquela formatação original de comédia dramática de atmosfera ambígua, hedonista e algo delirante, essa produção mais recente se desenvolve como um melodrama mais convencional, moralista e beirando o sentimentalismo excessivo, ainda que Boyle insira na narrativa alguns maneirismos estéticos “moderninhos”. É claro que existem aspectos positivos que dão uma certa aura carismática para o filme: algumas sequências são bem divertidas na sua síntese de comicidade ácida e violência gráfica, a trilha sonora cancioneira é excelente e foge do óbvio, o quarteto principal de personagens conta com ótimas caracterizações dramáticas. Mas são detalhes isolados que acabam engolidos pela estética preguiçosa e por um roteiro que se rende a soluções conservadoras e previsíveis. Por vezes o espectador pode até dar umas risadas ou ficar tenso em algumas passagens mais expressivas, mas a sensação geral é de indiferença diante da apatia criativa do trabalho de Boyle. Provavelmente, deve ser por isso que ao longo da narrativa são exibidos vários trechos do primeiro filme, como se fosse necessário lembrar da importância artística da obra de 1996 diante da irrelevância de “T2”.

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