segunda-feira, março 27, 2017

Fragmentado, de M. Night Shyamalan ***1/2

Na conclusão da trama de “Fragmentado” (2017), fica estabelecida uma conexão com “Corpo fechado” (2000) no sentido de que haja uma inter-relação entre as obras pelo fato de pertencerem a um mesmo universo existencial, havendo até uma sugestão de que haverá uma continuação ou assemelhado promovendo o encontro entre personagens de ambas as produções. Mas a aproximação que se pode fazer entre esses dois filmes não se dá apenas por essa questão. Nos dois trabalhos se pode observar semelhanças em termos de concepção artística, tanto pelo lado estético como o temático – é como se o diretor M. Night Shyamalan promovesse uma espécie de releitura particular do gênero “aventura de super-heróis” no cinema, com a diferença de que em “Corpo fechado” ele mostrou a gênese de um campeão do “bem”, enquanto que em “Fragmentado” está em foco a origem de um supervilão. Se no filme mais antigo havia algumas ideias interessantes que foram mal trabalhadas e acabaram resultando em uma obra um tanto vacilante e truncada em termos de narrativa e que se levava demasiadamente a sério, em “Fragmentado” abordagem e execução demonstram uma evolução impressionante. Shyamalan não temeu cair no exagero e mesmo no ridículo, dando ao seu filme uma atmosfera tensa, sórdida e beirando o delirante. Filmes de super-herói exigem uma dimensão épica e icônica em sua concepção, e o cineasta parece ter entendido tal necessidade. Ao invés de se prender em caracterizações psicológicas pretensiosas ou nos excessos melodramáticos de histórias paralelas como havia ocorrido em “Corpo fechado”, “Fragmentado” investe numa dinâmica narrativa mais objetiva, com direito a sequências de ação de notável desenvoltura cênica e a uma atuação alucinada de James McAvoy (é impressionante como olhares e gestos se alternam com naturalidade a cada personalidade que se muda do protagonista Kevin). E mesmo as sequências de flashback com Casey (Anya Taylor-Joy) se incorporam à trama de forma surpreendente, sem a necessidade de “amarrar pontas” e reforçando o caráter ambíguo e misterioso de “Fragmentado”. Assim, no seu conjunto geral, “Fragmentado” até faz imaginar como seria se Shyamalan fosse dirigir algum filme da Marvel ou da DC.

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