Na superfície, “Moonlight” (2016) remete a elementos de várias
produções norte-americanas na linha black: muito funk, soul e rap na trilha
sonora (excelente, por sinal), temática social relacionada a abandono familiar
e marginalidade, uma certa atmosfera sórdida e sombria que permeia a narrativa.
O filme dirigido por Barry Jenkins, entretanto, utiliza uma abordagem estética
e de conteúdo ainda mais ampla e que se revela de maneira sutil, em que um viés
intimista e sensorial vai se tornando predominante aos poucos. Na trama, aos
habituais preconceitos sociais e raciais se adiciona ainda a questão da
sexualidade. O roteiro descarta o caráter moralista ao expor as contradições e
dilemas dos personagens, principalmente no caso do protagonista Chiron, fazendo
com que algumas de suas escolhas que poderiam até ser consideradas
questionáveis ganham um ar de inevitabilidade do destino, principalmente ao se
considerar o ambiente nocivo que o envolve. Paira sobre os dois terços iniciais
do filme de maneira constante uma ambientação de opressão, em que cada passo de
Chiron parece estar sendo implacavelmente vigiado e perseguido. Algumas
escolhas formais por parte de Jenkin conseguem acentuar com precisão e
sensibilidade essa impressão – nesse sentido, é de se reparar, por exemplo, no
vertiginoso plano-sequência no início de “Moonlight” e na assustadora sequência
em que Chiron adolescente é espancado por colegas de escola. Alguns desses
truques narrativos podem até soar óbvios ou simples, mas tem uma eficácia
admirável para evidenciar o pesado drama do protagonista. No terceiro ato do
filme, Jenkins muda o seu enfoque, passando para um registro entre o melancólico
e o agridoce para sugerir uma possibilidade de redenção existencial para Chiron,
e que propicia uma sequência antológica, aquela em que Kevin (Andre Holland)
oferece para Chiron uma canção no jukebox.
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