quarta-feira, março 01, 2017

Moonlight, de Barry Jenkins ***

Na superfície, “Moonlight” (2016) remete a elementos de várias produções norte-americanas na linha black: muito funk, soul e rap na trilha sonora (excelente, por sinal), temática social relacionada a abandono familiar e marginalidade, uma certa atmosfera sórdida e sombria que permeia a narrativa. O filme dirigido por Barry Jenkins, entretanto, utiliza uma abordagem estética e de conteúdo ainda mais ampla e que se revela de maneira sutil, em que um viés intimista e sensorial vai se tornando predominante aos poucos. Na trama, aos habituais preconceitos sociais e raciais se adiciona ainda a questão da sexualidade. O roteiro descarta o caráter moralista ao expor as contradições e dilemas dos personagens, principalmente no caso do protagonista Chiron, fazendo com que algumas de suas escolhas que poderiam até ser consideradas questionáveis ganham um ar de inevitabilidade do destino, principalmente ao se considerar o ambiente nocivo que o envolve. Paira sobre os dois terços iniciais do filme de maneira constante uma ambientação de opressão, em que cada passo de Chiron parece estar sendo implacavelmente vigiado e perseguido. Algumas escolhas formais por parte de Jenkin conseguem acentuar com precisão e sensibilidade essa impressão – nesse sentido, é de se reparar, por exemplo, no vertiginoso plano-sequência no início de “Moonlight” e na assustadora sequência em que Chiron adolescente é espancado por colegas de escola. Alguns desses truques narrativos podem até soar óbvios ou simples, mas tem uma eficácia admirável para evidenciar o pesado drama do protagonista. No terceiro ato do filme, Jenkins muda o seu enfoque, passando para um registro entre o melancólico e o agridoce para sugerir uma possibilidade de redenção existencial para Chiron, e que propicia uma sequência antológica, aquela em que Kevin (Andre Holland) oferece para Chiron uma canção no jukebox. 

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