segunda-feira, setembro 11, 2017

A minha grande noite, de Álex de la Iglesia ***

O diretor espanhol Álex de la Iglesia conseguiu atingir um feito para o cinema contemporâneo que é de estabelecer um estilo artístico indelével, algo como se fosse uma síntese improvável entre aquelas atmosferas bagaceiras e sórdidas típicas das primeiras produções de Pedro Almodovar com o barroquismo distorcido que remete a algumas das obras mais delirantes de Fellini. Nesse sentido, os primeiros momentos de “A minha grande noite” (2015) são bastante promissores, em que as habituais brutalidade cartunesca e comicidade escrota embalam um roteiro que versa sobre a vulgaridade e hipocrisia da mídia e o caos social-econômico da sociedade ocidental contemporânea. Com o desenrolar da narrativa, entretanto, as boas expectativas não se cumprem em sua totalidade, principalmente pelo fato que não fica aquela impressão de que Iglesia tenha levado tudo às últimas consequências, coisa que ele já tinha realizado com propriedade em intensas obras como “O dia da besta” (1995), “Muertos de risa” (1999) e “Balada do amor e do ódio” (2010). Por vezes, o longa se entrega a algumas facilidades formais e temáticas, sugerindo quase uma amena comédia romântica. É claro que há bons momentos, principalmente pelo humor beirando o surrealismo de algumas sequências e pelas grotescas caracterizações dos personagens, além das ótimas cenas envolvendo alucinadas e perturbadoras batalhas campais entre policiais e manifestantes desempregados. Ainda assim, na conclusão de “A minha grande noite” fica a constatação que Iglesia perdeu a chance de entregar um trabalho antológico e contundente sobre os conturbados tempos que vivemos.

Nenhum comentário: