O diretor espanhol Álex de la Iglesia conseguiu atingir um
feito para o cinema contemporâneo que é de estabelecer um estilo artístico
indelével, algo como se fosse uma síntese improvável entre aquelas atmosferas
bagaceiras e sórdidas típicas das primeiras produções de Pedro Almodovar com o
barroquismo distorcido que remete a algumas das obras mais delirantes de
Fellini. Nesse sentido, os primeiros momentos de “A minha grande noite” (2015)
são bastante promissores, em que as habituais brutalidade cartunesca e
comicidade escrota embalam um roteiro que versa sobre a vulgaridade e
hipocrisia da mídia e o caos social-econômico da sociedade ocidental
contemporânea. Com o desenrolar da narrativa, entretanto, as boas expectativas
não se cumprem em sua totalidade, principalmente pelo fato que não fica aquela
impressão de que Iglesia tenha levado tudo às últimas consequências, coisa que
ele já tinha realizado com propriedade em intensas obras como “O dia da besta”
(1995), “Muertos de risa” (1999) e “Balada do amor e do ódio” (2010). Por
vezes, o longa se entrega a algumas facilidades formais e temáticas, sugerindo
quase uma amena comédia romântica. É claro que há bons momentos, principalmente
pelo humor beirando o surrealismo de algumas sequências e pelas grotescas
caracterizações dos personagens, além das ótimas cenas envolvendo alucinadas e
perturbadoras batalhas campais entre policiais e manifestantes desempregados. Ainda
assim, na conclusão de “A minha grande noite” fica a constatação que Iglesia
perdeu a chance de entregar um trabalho antológico e contundente sobre os
conturbados tempos que vivemos.
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