Quem for assistir a “Mãe!” (2017) achando que se trata de um
filme de terror tradicional vai dar com os burros n’água. O filme do diretor
Darren Aronofsky está mais para uma equação bizarra: imagine alguma obra típica
de Lars Von Trier, como “Anticristo” (2009) ou “Melancolia” (2011), refilmada
por James Cameron. O resultado dessa combinação aparentemente improvável pode
não ser exatamente uma obra-prima, mas ainda assim é um trabalho perturbador e fascinante
em seus exageros de encenação e na sua intrincada simbologia. Ao contrário de “O
lutador” (2008) e “Cisne negro” (2010), longas anteriores de Aronofsky marcados
por uma narrativa mais equilibrada e concepção estética mais sutil, “Mãe!” se
aproxima dos delírios barrocos e do ritmo narrativo irregular de “Fonte da vida”
(2006). Tal opção artística do cineasta não é gratuita ou acidental, pois o que
o diretor faz é jogar o espectador direto na mente caótica e fervilhante de
ideias e concepções megalomaníacas de um escritor (Javier Barden) para fazer um
cortante retrato existencial sobre o patriarcalismo e opressão religiosa na
sociedade ocidental. O contraponto que se estabelece entre o protagonista e sua
esposa (Jennifer Lawrence) se manifesta num primeiro momento como de caráter
intimista e aos poucos vai ganhando contornos cada vez mais épicos e complexos,
com o roteiro recheando várias sequências com metáforas visuais e mesmo
textuais desconcertantes que transformam “Mãe!” em uma sombria parábola moral
que se conecta com uma linhagem recente de filmes como “A bruxa” (2015) e “O
ornitólogo” (2016) que questionam de maneira ácida a pérfida e indissociável
relação entre obscurantismo religioso e os mecanismos de dominação
político-social.
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