sexta-feira, setembro 22, 2017

It - A coisa, de Andy Muschietti ***

A figura do escritor Stephen King não se restringe apenas ao âmbito literário. O alcance de sua obra se estendeu a outras mídias, fazendo com que o autor se configurasse numa espécie de universo cultural próprio, tornando-se uma referência no imaginário popular ocidental, principalmente no que diz respeito na caracterização das referências estéticas e temáticas dos anos 80, época em que alguns dos seus principais livros e filmes baseados em seus originais foram lançados. Nesse sentido, a nova versão cinematográfica de “It – A coisa” (2017), um de seus livros mais conhecidos, é um exemplar expressivo dessa síntese entre King e anos 80. O filme do diretor Andy Muschietti evoca na sua estrutura narrativa e no seu roteiro uma combinação da exaltação da amizade na adolescência de “Conta comigo” (1986), da aventura juvenil escapista de “Goonies” (1985) e do terror sobrenatural explícito da franquia oitentista “A hora do pesadelo”. Ou seja, pura nostalgia divertida reciclada com os efeitos especiais contemporâneos. Dentro de tal concepção, é uma obra que até surpreende por doses de violência gráfica maiores que o habitual nesse tipo de produção, por vezes beirando até o escatológico. A trama evoca em determinadas passagens questões espinhosas como racismo, pedofilia, incesto e opressão religiosa, mas sempre de forma mais sutil, com a narrativa privilegiando a ação e o grafismo sangrento. Tal direcionamento acaba fazendo com que “It” resvale por vezes no convencionalismo excessivo, quando justamente as melhores passagens da obra estão naquelas sequências que valorizam um horror mais atmosférico e perturbador que se relaciona com os segredos e medos obscuros de uma cidadezinha interiorana típica do “american way of life”.

Nenhum comentário: