A figura do escritor Stephen King não se restringe apenas ao
âmbito literário. O alcance de sua obra se estendeu a outras mídias, fazendo
com que o autor se configurasse numa espécie de universo cultural próprio,
tornando-se uma referência no imaginário popular ocidental, principalmente no
que diz respeito na caracterização das referências estéticas e temáticas dos
anos 80, época em que alguns dos seus principais livros e filmes baseados em
seus originais foram lançados. Nesse sentido, a nova versão cinematográfica de “It
– A coisa” (2017), um de seus livros mais conhecidos, é um exemplar expressivo
dessa síntese entre King e anos 80. O filme do diretor Andy Muschietti evoca na
sua estrutura narrativa e no seu roteiro uma combinação da exaltação da amizade
na adolescência de “Conta comigo” (1986), da aventura juvenil escapista de “Goonies”
(1985) e do terror sobrenatural explícito da franquia oitentista “A hora do
pesadelo”. Ou seja, pura nostalgia divertida reciclada com os efeitos especiais
contemporâneos. Dentro de tal concepção, é uma obra que até surpreende por
doses de violência gráfica maiores que o habitual nesse tipo de produção, por
vezes beirando até o escatológico. A trama evoca em determinadas passagens
questões espinhosas como racismo, pedofilia, incesto e opressão religiosa, mas
sempre de forma mais sutil, com a narrativa privilegiando a ação e o grafismo
sangrento. Tal direcionamento acaba fazendo com que “It” resvale por vezes no
convencionalismo excessivo, quando justamente as melhores passagens da obra
estão naquelas sequências que valorizam um horror mais atmosférico e
perturbador que se relaciona com os segredos e medos obscuros de uma
cidadezinha interiorana típica do “american way of life”.
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