Os dois longas-metragens que mais ganharam prêmios e
chamaram à atenção na edição de 2017 do Festival de Gramado, “Como nossos pais”
e “As duas Irenes”, têm em comum o fato de que as premissas básicas de sua
trama versam sobre a oprimida condição feminina perante uma sociedade
patriarcal, além dos seus respectivos subtextos também indicarem possibilidades
de reação diante desse quadro. Se no primeiro filme há elementos temáticos de
modernidade que acabam se perdendo por vezes em uma narrativa que caem em
alguns apelativos truques melodramáticos, na obra dirigida por Fábio Meira a
abordagem artística-existencial se mostra mais sóbria e universal. O acabamento
formal da produção é tradicional e não mostra grandes arroubos estéticos, mas a
edição e fotografia formam um conjunto narrativo de ritmo sereno, quase
contemplativo, que se mostra em perfeita sintonia com o espírito de sutil e
ácida contestação presente no roteiro. A encenação valoriza a síntese de vigor
e delicadeza nas composições dramáticas das duas garotas protagonistas, além de
realçar os aspectos contraditórios da figura paterna dominadora e carismática
de Tonico (Marco Ricca). Em alguns momentos, Meira até brinca com alguns
clichês narrativos, como se insinuasse um caminho mais previsível e conciliador
para a trama do filme. Em seu terço final, entretanto, “As duas Irenes” se
direciona para caminhos mais libertários e questionadores, com uma conclusão
que evoca um desconcertante misto de desafio e ironia.
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