terça-feira, setembro 05, 2017

Sexta-feira em apuros, de F. Gary Gray **

A ascensão artística do diretor Spike Lee nos anos 80 marcou também o renascimento do cinema negro norte-americano. Ao contrário do panorama setentista blaxploitation, mais voltado para uma revisão radical do cinema de gênero, esse novo cenário se concentrou em dramas e comédias de formato mais tradicional que abordavam em suas respectivas temáticas, em maior ou menor grau, questões sociais inerentes à população negra nos Estados Unidos. Foi justamente nesse contexto que apareceu “Sexta-feira em apuros” (1995), produção cômica que trazia em sua narrativa elementos-chaves para aquela cultura: roteiro que apresenta situações cotidianas nos bairros de predominância black, trilha sonora recheada de hip-hop, uma atmosfera lúdica movida a maconha e piadas sexistas. E no meio de tal concepção artística bastante vinculada à diversão escapista, havia rasgos de crítica social sobre criminalidade, preconceito racial e opressão estatal. A junção de todos esses aspectos estéticos e temáticos por vezes soava um tanto forçada, ficando evidente uma encenação ingênua e truncada, além de um roteiro esquemático em demasia. Ainda assim, é uma obra que acaba tendo um inesperado encanto pelo tom nostálgico de ser o retrato de uma época. E é curioso saber que o diretor F. Gary Gray décadas depois foi o responsável pela vigorosa cinebiografia “Straight Outta Compton – A história do N.W.A.” (2015), longa que contou a história da banda do cantor e ator Ice Cube, que interpretou o papel de protagonista em “Sexta-feira em apuros”.

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