A ascensão artística do diretor Spike Lee nos anos 80 marcou
também o renascimento do cinema negro norte-americano. Ao contrário do panorama
setentista blaxploitation, mais voltado para uma revisão radical do cinema de
gênero, esse novo cenário se concentrou em dramas e comédias de formato mais
tradicional que abordavam em suas respectivas temáticas, em maior ou menor
grau, questões sociais inerentes à população negra nos Estados Unidos. Foi
justamente nesse contexto que apareceu “Sexta-feira em apuros” (1995), produção
cômica que trazia em sua narrativa elementos-chaves para aquela cultura:
roteiro que apresenta situações cotidianas nos bairros de predominância black,
trilha sonora recheada de hip-hop, uma atmosfera lúdica movida a maconha e
piadas sexistas. E no meio de tal concepção artística bastante vinculada à
diversão escapista, havia rasgos de crítica social sobre criminalidade,
preconceito racial e opressão estatal. A junção de todos esses aspectos
estéticos e temáticos por vezes soava um tanto forçada, ficando evidente uma
encenação ingênua e truncada, além de um roteiro esquemático em demasia. Ainda
assim, é uma obra que acaba tendo um inesperado encanto pelo tom nostálgico de
ser o retrato de uma época. E é curioso saber que o diretor F. Gary Gray
décadas depois foi o responsável pela vigorosa cinebiografia “Straight Outta
Compton – A história do N.W.A.” (2015), longa que contou a história da banda do
cantor e ator Ice Cube, que interpretou o papel de protagonista em “Sexta-feira
em apuros”.
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