O título em português e o cartaz de “Um instante de amor”
(2016) podem sugerir aqueles rotineiros e mofados melodramas exacerbados
típicos de uma certa linguagem previsível de produções francesas de “qualidade”.
Na prática, entretanto, ainda que o filme dirigido por Nicole Garcia tenha uma
narrativa marcada por um classicismo acentuado, existem determinados fatores
artísticos no longa que o afastam do estigma da irrelevância. Por trás de uma
trama que valoriza elementos característicos dos melodramas românticos, há
também uma arguta e sutil visão crítica sobre como a concepção de amor
romântico pode ser opressor e alienante paras os indivíduos. Tal direcionamento
existencial se vale de um engenhoso jogo de simbologias, além de uma abordagem
emocional bastante sóbria e de uma atmosfera mista de ironia e morbidez. A
caracterização de personagens e situações é muito bem delineada – nesse sentido,
é fascinante como a construção dos três principais personagens da história se inter-relacionam
com notável e fluida coerência, servindo como metáfora precisa do espectro
sócio-político-cultural da Europa da primeira metade do século XX. Mesma o
aparente tom novelesco do filme guarda em sua essência uma melancólica e
resignada constatação sobre as relações humanas dentro de um contexto de
hipócrita idealização romântica e preconceito social.
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