Por vezes, principalmente em seu terço inicial, a estrutura
narrativa e a trama de “Bom comportamento” (2017) sugerem um derivado do gênero
suspense-policial naquela linha de uma história envolvendo um grande plano de
roubo ou golpe semelhante. Com o desenrolar da narrativa, entretanto, a
verdadeira natureza do filme dirigido por Bem e Joshua Safdie vai se
manifestando de maneira contundente e perturbadora. A trajetória do assaltante
Connie (Robert Pattinson) para tentar libertar o irmão Nick (Ben Safdie) após
este ter sido preso durante a fuga de um roubo à banco frustrado mais tem a ver
com uma crônica sardônica sobre desajustados do que propriamente com um
thriller de ação. Ainda assim, a forma com que os Safdie conduzem a produção privilegia
a tensão e a encenação frenética. A uma certa altura da trama, fica evidente
que as escolhas de Connie na busca do seu objetivo obedecem a uma lógica
aleatória e equivocada, típica de um habitual perdedor. Quando entra em cena o
esquisito marginal Ray (Buddy Durress), o roteiro e atmosfera de “Bom
comportamento” ficam ainda mais configurados dentro de uma síntese que oscila
entre o melancólico e o delirante – não à toa, Connie e Ray embalam suas
correrias e mancadas com doses generosas de álcool e LSD, fazendo com que o
espectador embarque em um amargo e longo pesadelo com direito a desconcertantes
toques cômicos. O formalismo articulado pelos diretores acentua com precisão
essa ambientação marcada pela crueza e por um sutil humor negro – há uma
clareza imagética que realça cada gesto e expressão dos personagens,
amplificando tanto a assustadora brutalidade gráfica de algumas cenas quanto a
densidade psicológica e a frieza emocional de outras sequências. Além disso,
conta-se com alguns detalhes cênicos que revelam notável sintonia com o
espírito da obra, como as vigorosas interpretações de Pattinson e Duress e a
trilha sonora que combina timbres oitentistas e nuances eletrônicas.
Um comentário:
Me lembrou muito o melhor do cinema americano dos anos 70
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