O diretor italiano Andrea Pallaoro exerce em “Hannah” (2017)
um rigoroso exercício de estilo estético/existencial. A premissa do roteiro é
objetiva e quase espartana em seus desdobramentos – a austera rotina de Hannah
(Charlotte Rampling) a partir da prisão de seu marido. O crime e as suas circunstâncias
que levaram à condenação de seu companheiro são expostos ao longo da narrativa
em sutis nuances de gestos, expressões faciais e econômicos diálogos. Para
Pallaoro, além da exposição do cotidiano desolador da protagonista, há um
interesse primordial na forma com que os elementos da trama se apresentam ao
espectador. É quase como se fosse um desafio contemplativo do cineasta em
relação ao seu público – o entendimento pleno do que se viu na tela vem apenas
na conclusão do filme, e mesmo assim sem um tom de grande revelação dramática.
A “solução” para os aparentes mistérios sugeridos na trama é simples, ainda que
perturbadora. Não há julgamento moral sobre as atitudes dos personagens, apenas
uma atmosfera resignada de fatalismo e inexorabilidade no destino dos
indivíduos. Fica estabelecida uma relação simbiótica entre os ascetismos da
vida de Hannah e do formalismo sem concessões de Pallaoro. Nessa cerebral concepção
artística, ainda que coerente com o aludido exercício de estilo do diretor, não
há muito espaço para grandes arroubos sensoriais. A fresta de maior
transcendência que se abre é uma poderosa interpretação dramática da atriz
principal. Charlotte Rampling domina toda a narrativa com uma sensacional
atuação marcada pela contenção de sentimentos e que por vezes explodem em
violentas manifestações emocionais. É como se observássemos um prédio ruindo em
câmera lenta.
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