A filmografia de Domingos Oliveira parece ser um eterno “Amarcord”
– são obras que se desenvolvem em torno das memórias e obsessões sentimentais
do cineasta. Se por um lado isso é admirável no sentido de configurar uma
coerência autoral muito particular dentro da história do cinema brasileiro, por
outro faz com que os filmes de Oliveira se mantenham em uma linha tênue entre o
memorável, o razoável e o francamente ruim. “Infância” (2014) se enquadra nessa
última categoria. O longa se equilibra de maneira irregular em polos opostos de
abordagem artística – por vezes o cineasta busca uma encenação mais solta,
plena de verborragia excêntrica e com uma ambientação até pretensamente
delirante; em outras oportunidades, procura se adequar aos preceitos de um
cinema acadêmico de época. Em nenhuma dessas abordagens se mostra satisfatório
e nessa tensão narrativa a produção acaba se mostrando autoindulgente e esquemática,
bem distante da criatividade estética/temática esfuziante e divertida de filmes
antológicos como “Todas as mulheres do mundo” (1967) e “BR183” (2016). Há até
sequências em “Infância” que remetem a uma comicidade bem típica de Oliveira,
principalmente de um lado mais picaresco dos personagens, e que sugerem que o
filme poderia ter ficado bem mais interessante em seu resultado final se o
diretor tivesse acertado a mão na narrativa.
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