quarta-feira, julho 25, 2018

Infância, de Domingos Oliveira *1/2


A filmografia de Domingos Oliveira parece ser um eterno “Amarcord” – são obras que se desenvolvem em torno das memórias e obsessões sentimentais do cineasta. Se por um lado isso é admirável no sentido de configurar uma coerência autoral muito particular dentro da história do cinema brasileiro, por outro faz com que os filmes de Oliveira se mantenham em uma linha tênue entre o memorável, o razoável e o francamente ruim. “Infância” (2014) se enquadra nessa última categoria. O longa se equilibra de maneira irregular em polos opostos de abordagem artística – por vezes o cineasta busca uma encenação mais solta, plena de verborragia excêntrica e com uma ambientação até pretensamente delirante; em outras oportunidades, procura se adequar aos preceitos de um cinema acadêmico de época. Em nenhuma dessas abordagens se mostra satisfatório e nessa tensão narrativa a produção acaba se mostrando autoindulgente e esquemática, bem distante da criatividade estética/temática esfuziante e divertida de filmes antológicos como “Todas as mulheres do mundo” (1967) e “BR183” (2016). Há até sequências em “Infância” que remetem a uma comicidade bem típica de Oliveira, principalmente de um lado mais picaresco dos personagens, e que sugerem que o filme poderia ter ficado bem mais interessante em seu resultado final se o diretor tivesse acertado a mão na narrativa.

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