A maioria dos filmes dirigido pelo diretor japonês Kirokazu
Kore-eda é formada por sóbrios melodramas familiares. “O terceiro assassinato”
(2017) representa, em um primeiro momento, uma insólita mudança de gênero
cinematográfico para o cineasta, enveredando para a área do suspense policial.
A trama gira em torno das misteriosas motivações de um brutal assassinato de um
homem por parte de um ex-empregado seu. Ocorre, entretanto, que no desenvolver
da narrativa se pode perceber que Kore-eda procura se distanciar dos clichês
temáticos e estéticos inerentes a esse tipo de produção, procurando adequar a
trama dentro de seus habituais preceitos artísticos. Assim, o foco é mais
acentuado nos dilemas intimistas dos personagens (investigadores, suspeito,
familiares da vítima) e também em se realizar uma espécie de crítico panorama moral
da sociedade japonesa contemporânea. As ambições do diretor são interessantes
nessa formatação, mas a verdade é que o resultado final acaba deixando a
desejar. O motivo principal para essa frustração está justamente naquilo que
sempre foi o forte nas obras dirigidas por Kore-eda – a encenação. O que geralmente
era preciso e minucioso em outros filmes do cineasta, agora parece
descompassado e enfadonho em “O terceiro assassinado”, fazendo com que até
mesmo o próprio roteiro do longa se mostre por vezes banal e perdido em
excessos sentimentais.
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