quinta-feira, julho 19, 2018

Uma casa à beira-mar, de Robert Guédiguian ****


Há muitos anos que o diretor francês Robert Guédiguian filma praticamente da mesma forma. Sua narrativa é de estrutura clássica, a encenação é um misto de fluidez e rigor, a temática sempre sintetiza intimismo com olhar crítico sobre as mazelas sociais e políticas. Ele até pode ser previsível em seus preceitos artísticos-existenciais, mas sempre os coloca em prática de forma vigorosa. Em algumas oportunidades o resultado final não chega a ser tão memorável, mas quando ele acerta a mão de verdade, a impressão que resta é de um forte impacto emocional para o espectador. “Uma casa à beira-mar” (2017) é um desses pontos altos da carreira do cineasta. O roteiro traz uma série de elementos bastantes caros para a sociedade na atualidade: descontentamento com a globalização econômica massacrante, a perseguição a refugiados e imigrantes, a nostalgia por um passado mais humano. A visão expressa pelo filme sobre tais temas tem um forte caráter panfletário, por vezes beirando a ingenuidade e o anacronismo, só que Guédiguian formata tudo isso com uma convicção e uma lucidez contundentes em sua narrativa que acaba encantando pelo humanismo sem concessões de tal abordagem. As simbologias imagéticas e textuais são simples, diretas, mas altamente eficazes na delicadeza e precisão de sua execução. Mesmo a forma com que o cenário natural em que a história se passa, a de uma bela vila de pescadores no interior da França, foge da simples caracterização “cartão postal” e se configura como um pequeno e complexo universo a refletir as contradições e dilemas da Europa contemporânea. No mais, “Uma casa à beira mar” também representa uma impressionante depuração das melhores qualidades de Guédiguian como realizador – a direção de atores extrai nuances dramáticas magníficas das atuações do elenco, a atmosfera do filme varia de maneira natural entre a dureza realista e uma doçura quase fabular, o discurso humanista alia melancolia e esperança nas doses exatas. A sensacional sequência final da produção, de um lirismo pungente à flor-da-pele, coroa com perfeição as coerentes soluções autorais de Guédiguian para a sua obra.

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