Se “Amor, sublime amor” (1961) era uma releitura
estilizada/musicada da clássica peça shakespeariana “Romeu e Julieta”, “Inimigos
pelo destino” (1987) adapta ambas as obras pelo olhar muito particular do
diretor norte-americano Abel Ferrara. A trágica história original de amor
impossível entre dois jovens permanece praticamente a mesma, assim como a
atualização da trama para um ambiente de gangues em eterno desafio. O que muda
em termos efetivos é a perspectiva mais sórdida e carregada de uma
religiosidade distorcida que é típica da filmografia de Ferrara. O diretor
capricha na violência gráfica e na encenação exagerada, mas sem cair no choque
sensorial gratuito. Assim, o tradicional drama dos amantes se converte em algo
entre o bizarro conto moral e o exploitation descabelado. Shakespeare renasce
sob um âmbito artístico que tanto se mostra repulsivo quanto fascinante nessa
moldura barroca-realista.
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