quinta-feira, novembro 22, 2018

Inimigos pelo destino, de Abel Ferrara ***1/2


Se “Amor, sublime amor” (1961) era uma releitura estilizada/musicada da clássica peça shakespeariana “Romeu e Julieta”, “Inimigos pelo destino” (1987) adapta ambas as obras pelo olhar muito particular do diretor norte-americano Abel Ferrara. A trágica história original de amor impossível entre dois jovens permanece praticamente a mesma, assim como a atualização da trama para um ambiente de gangues em eterno desafio. O que muda em termos efetivos é a perspectiva mais sórdida e carregada de uma religiosidade distorcida que é típica da filmografia de Ferrara. O diretor capricha na violência gráfica e na encenação exagerada, mas sem cair no choque sensorial gratuito. Assim, o tradicional drama dos amantes se converte em algo entre o bizarro conto moral e o exploitation descabelado. Shakespeare renasce sob um âmbito artístico que tanto se mostra repulsivo quanto fascinante nessa moldura barroca-realista.

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