A música popular brasileira é um assunto que vira e mexe o
diretor Miguel Faria Jr. gosta de abordar de alguma forma em seus filmes. Do
musical (“Para viver um grande amor”) ao documentário biográfico (“Vinicíus”, “Chico
Brasileiro”), o cineasta demonstrou o seu apreço pelo cancioneiro nacional.
Dentro de tal temática, entretanto, é curioso observar que seu melhor filme é
justamente “Stelinha” (1990), obra ficcional a narrar a decadência artística e
existencial de uma cantora brasileira da “velha guarda” do samba-canção. Por
vezes a encenação e o roteiro caem em excessos melodramáticos que resvalam no
brega, mas o filme de Faria Jr. acaba se mostrando memorável em alguns detalhes
estéticos e temáticos trabalhados com convicção e sensibilidade. Com uma trama
situada no final dos anos 80, a produção consegue oferecer um panorama intenso
e algo cruel sobre a indústria da música, em que artistas e suas obras são
tratados como meros produtos – a grande questão é saber se conseguem se adequar
ao gosto efêmero do público e se ainda são vendáveis. Se a narrativa começa
como uma abordagem naturalista, com o seu desenrolar “Stelinha” vai ganhando
cada vez um caráter mais simbolista, por vezes quase delirante, em atmosferas
de sordidez que ganham cada vez mais um caráter de pesadelo. A atuação over de
Ester Góes no papel-título e os números músicas estilizados acentuam essa
impressão de onirismo perturbador do filme.
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