segunda-feira, novembro 05, 2018

Stelinha, de Miguel Faria Jr. ***


A música popular brasileira é um assunto que vira e mexe o diretor Miguel Faria Jr. gosta de abordar de alguma forma em seus filmes. Do musical (“Para viver um grande amor”) ao documentário biográfico (“Vinicíus”, “Chico Brasileiro”), o cineasta demonstrou o seu apreço pelo cancioneiro nacional. Dentro de tal temática, entretanto, é curioso observar que seu melhor filme é justamente “Stelinha” (1990), obra ficcional a narrar a decadência artística e existencial de uma cantora brasileira da “velha guarda” do samba-canção. Por vezes a encenação e o roteiro caem em excessos melodramáticos que resvalam no brega, mas o filme de Faria Jr. acaba se mostrando memorável em alguns detalhes estéticos e temáticos trabalhados com convicção e sensibilidade. Com uma trama situada no final dos anos 80, a produção consegue oferecer um panorama intenso e algo cruel sobre a indústria da música, em que artistas e suas obras são tratados como meros produtos – a grande questão é saber se conseguem se adequar ao gosto efêmero do público e se ainda são vendáveis. Se a narrativa começa como uma abordagem naturalista, com o seu desenrolar “Stelinha” vai ganhando cada vez um caráter mais simbolista, por vezes quase delirante, em atmosferas de sordidez que ganham cada vez mais um caráter de pesadelo. A atuação over de Ester Góes no papel-título e os números músicas estilizados acentuam essa impressão de onirismo perturbador do filme.

Nenhum comentário: