quarta-feira, novembro 14, 2018

Sedução e vingança, de Abel Ferrara ****


Os primeiros longas-metragens do diretor norte-americano Abel Ferrara eram marcados por uma bizarra equação artística – ainda que posteriormente ele tenha refinado mais o formalismo de seus filmes, ele nunca perdeu o punch dessa estranha abordagem artística. Nesses primeiros filmes, o cineasta abusava de uma estética sórdida típica das produções exploitation que se adequava de maneira perturbadora a uma formatação narrativa que remetia a insólitos contos morais. “Sedução e vingança” (1981) é um exemplar contundente dessa singular concepção fílmica de Ferrara. Em um primeiro momento, pode-se até pensar que o roteiro que mostra trajetória de desforra da protagonista Thana (Zoë Lund) contra o mundo masculino após ser estuprada duas vezes no mesmo dia remete ao tradicional modelo do filme de vingança. No desenrolar da narrativa, contudo, Ferrara desmonta tais expectativas ao dar um caráter cada vez mais nebuloso e mítico para as atitudes da personagem e também ao elaborar atmosferas e encenação que enveredam com sutileza para o irreal e a uma estilização “suja”. Assim, paira sobre a obra uma desconcertante ambiguidade que se cristaliza de maneira impactante na antológica sequência final de um massacre promovido por Thana que culmina em um inesperado castigo que lhe tira qualquer possibilidade de redenção. No conturbado mundo de Abel Ferrara, nada é o que parece...

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