Os primeiros longas-metragens do diretor norte-americano
Abel Ferrara eram marcados por uma bizarra equação artística – ainda que
posteriormente ele tenha refinado mais o formalismo de seus filmes, ele nunca
perdeu o punch dessa estranha abordagem artística. Nesses primeiros filmes, o
cineasta abusava de uma estética sórdida típica das produções exploitation que
se adequava de maneira perturbadora a uma formatação narrativa que remetia a
insólitos contos morais. “Sedução e vingança” (1981) é um exemplar contundente
dessa singular concepção fílmica de Ferrara. Em um primeiro momento, pode-se
até pensar que o roteiro que mostra trajetória de desforra da protagonista
Thana (Zoë Lund) contra o mundo masculino após ser estuprada duas vezes no
mesmo dia remete ao tradicional modelo do filme de vingança. No desenrolar da
narrativa, contudo, Ferrara desmonta tais expectativas ao dar um caráter cada
vez mais nebuloso e mítico para as atitudes da personagem e também ao elaborar
atmosferas e encenação que enveredam com sutileza para o irreal e a uma
estilização “suja”. Assim, paira sobre a obra uma desconcertante ambiguidade
que se cristaliza de maneira impactante na antológica sequência final de um massacre
promovido por Thana que culmina em um inesperado castigo que lhe tira qualquer
possibilidade de redenção. No conturbado mundo de Abel Ferrara, nada é o que
parece...
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