O grande mérito artístico de “Bye Bye Brasil” (1979), obra
que talvez seja a realização mais iluminada de Cacá Diegues como diretor, era
fazer um lúcido retrato entre o amargo e o irônico das mazelas econômicas,
sociais e morais de um Brasil profundo através de uma marcante síntese de
narrativa de forte dinamismo cênico, elenco de interpretações carismáticas e um
roteiro repleto de notáveis nuances dramáticas e cômicas ao contar as
peripécias de uma trupe de artistas mambembes pelo interior nacional. A trama
de “O grande circo místico” (2018), filme mais recente de Diegues, tem uma
temática semelhante ao narrar a história de uma família de profissionais do
circo do título do filme ao longo de 100 anos. O parentesco entre as duas
produções, entretanto, parece parar por aí, pois há uma distância abissal em
termos de qualidade artística entre ambas. O que uma tinha de vivacidade
criativa e precisão formal nas suas ideias a outra despeja na tela concepção e
execução mofadas e por vezes até indigente. Pode-se até dizer que havia uma
pretensão ousada por parte de Diegues em evocar um certo caráter onírico e
grotesco para a obra, mas a forma como isso é colocado em cena é desastroso. O
que era para ser poético e refinado em termos estético e existencial acaba enveredando
para o brega e a vazia opulência visual. Mesmo a belíssima trilha sonora
original composta por Chico Buarque e Edu Lobo é desperdiçada de maneira
lamentável – na realidade, por vezes a impressão é de que o filme parece um
longo vídeo clip mal-ajambrado para adequar com uma coerência textual meio
qualquer nota os números musicais com um roteiro digno de minissérie global
derivativa. Há passagens que até insinuam que “O grande circo místico” tinha
potencial para ser algo bem melhor, principalmente na expressiva sequência de
sexo acrobático entre Beatriz (Bruna Linzmeyer) e Fred (Rafael Lozano) e nas
cenas finais das gêmeas que flutuam em meio as ruínas do circo, mas esses
breves acertos sucumbem diante da direção artrítica de Diegues.
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