Para quem admira o trabalho do diretor Atom Egoyan por obras
memoráveis e instigantes como “Exótica” (1994) e “O doce amanhã” (1997), pode
parecer um tanto frustrante vê-lo nos últimos anos trabalhar dentro de padrões
mais convencionais vinculados ao gênero suspense. “Memórias secretas” (2015) é
um claro exemplar dessa tendência na filmografia recente do cineasta. O roteiro
é um tanto surrado em sua formulação, principalmente nas “surpresas” novelescas
do terço final da narrativa, repisando em velhos clichês de filmes relativos às
consequências da 2ª Guerra Mundial (se bem que o avanço de ideias típicas do
nazi-fascismo nos dias de hoje mostra que nem mesmo a lembrança constante do
conflito via cinema foi capaz de ensinar algo para a humanidade). Mesmo que o
resultado final da obra se situe dentro de uma incômoda previsibilidade,
entretanto, é evidente também que em determinadas passagens da produção fica
evidente a mão diferenciada de Egoyan em termos estéticos e mesmo temáticos. A
encenação tem uma certa sobriedade dramática que consegue dar uma consistência
psicológica perturbadora para cenas importantes. Além disso, há algumas nuances
no roteiro que revelam um bem-vindo viés irônico em alguns dos exageros da
trama. De se destacar ainda as elegantes interpretações de parte do elenco que
oferecem dignidade para personagens com tendências para o melodrama barato. Ou
seja, nesse contexto geral, dá para dizer que Egoyan ainda tem crédito
suficiente para ser um nome para sempre se prestar atenção.
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