segunda-feira, novembro 26, 2018

Memórias secretas, de Atom Egoyan ***


Para quem admira o trabalho do diretor Atom Egoyan por obras memoráveis e instigantes como “Exótica” (1994) e “O doce amanhã” (1997), pode parecer um tanto frustrante vê-lo nos últimos anos trabalhar dentro de padrões mais convencionais vinculados ao gênero suspense. “Memórias secretas” (2015) é um claro exemplar dessa tendência na filmografia recente do cineasta. O roteiro é um tanto surrado em sua formulação, principalmente nas “surpresas” novelescas do terço final da narrativa, repisando em velhos clichês de filmes relativos às consequências da 2ª Guerra Mundial (se bem que o avanço de ideias típicas do nazi-fascismo nos dias de hoje mostra que nem mesmo a lembrança constante do conflito via cinema foi capaz de ensinar algo para a humanidade). Mesmo que o resultado final da obra se situe dentro de uma incômoda previsibilidade, entretanto, é evidente também que em determinadas passagens da produção fica evidente a mão diferenciada de Egoyan em termos estéticos e mesmo temáticos. A encenação tem uma certa sobriedade dramática que consegue dar uma consistência psicológica perturbadora para cenas importantes. Além disso, há algumas nuances no roteiro que revelam um bem-vindo viés irônico em alguns dos exageros da trama. De se destacar ainda as elegantes interpretações de parte do elenco que oferecem dignidade para personagens com tendências para o melodrama barato. Ou seja, nesse contexto geral, dá para dizer que Egoyan ainda tem crédito suficiente para ser um nome para sempre se prestar atenção.

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