Enveredar para o faroeste não é exatamente uma novidade para
os irmãos Coen. Os cineastas já haviam realizados releituras bem autorais e
particulares do gênero, tanto na atualização contemporânea de “Onde os fracos
não têm vez” (2007) quanto no tom crepuscular de “Bravura indômita” (2010). Em “A
balada de Buster Scruggs” (2018), entretanto, esse processo de recriação se mostra
mais radical e desconcertante, em uma abordagem artística e existencial que talvez
só encontre paralelos recentes com a reconstrução “tarantinesca” do gênero no
sensacional “Os oitos odiados” (2015). Ao dividir a narrativa em seis
episódios, os Coen buscam caminhos estéticos e temáticos diferentes para cada
segmento, mas sem nunca perder a unidade artística-conceitual. Indo do musical
estilizado até o horror gótico, e passando pelo realismo e a comédia de erros,
o filme nunca perde o prumo a partir de uma impecável síntese formal-textual,
com destaque para a fotografia de plasticidade arrebatadora, um roteiro
lapidado à beira da perfeição e um elenco repleto de atuações memoráveis. “A
balada de Buster Scruggs” é uma obra que reflete uma das grandes marcas
autorais dos Coen – a capacidade de entrelaçar com naturalidade elementos do
cinema clássico norte-americano com algumas nuances perversas de renovação.
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