No que uma produção italiana no gênero suspense se
diferencia de outra norte-americana rotineira no mesmo gênero? Em nada, ou pelo
menos é que o se consta ao assistir a “A garota na névoa” (2018). Por vezes,
até há um esboço de fuga do lugar comum na caracterização do protagonista Vogel
(Toni Servillo), um veterano e excêntrico detetive que investiga o sumiço, e
provável assassinato, de uma adolescente em uma aldeia no interior da Itália. A
impressão de algo diferente, entretanto, logo se dissipa no desenvolvimento da uma
narrativa esquemática, e de concepção visual asséptica que jogam o filme do
diretor Donato Carrisi para o limbo das obras fáceis de ver e também fáceis de
esquecer. Falta sutileza e tensão dramática consistente na encenação e mesmo na
edição – repare-se, por exemplo, como uma música incidental ostensiva e
constante deixa a narrativa com uma incômoda atmosfera rococó. Não que uma
ambientação operística/barroca fosse necessariamente um defeito – é só pensar
que Dario Argento adorava impregnar seus filmes com exageros barrocos
extraordinários. Assim, falta para Carrisi um senso audiovisual mais apurado para
justificar a sua pretensão de grandiosidade estética. E mesmo a tentativa de se
realizar no subtexto do roteiro uma visão crítica sobre o fanatismo religioso e
a falta de escrúpulos da mídia sensacionalista na sociedade moderna acaba se
frustrando diante da superficialidade dos truques banais da trama com suas
viradas rocambolescas e estapafúrdias.
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