quinta-feira, março 07, 2019

A garota na névoa, de Donato Carrisi **


No que uma produção italiana no gênero suspense se diferencia de outra norte-americana rotineira no mesmo gênero? Em nada, ou pelo menos é que o se consta ao assistir a “A garota na névoa” (2018). Por vezes, até há um esboço de fuga do lugar comum na caracterização do protagonista Vogel (Toni Servillo), um veterano e excêntrico detetive que investiga o sumiço, e provável assassinato, de uma adolescente em uma aldeia no interior da Itália. A impressão de algo diferente, entretanto, logo se dissipa no desenvolvimento da uma narrativa esquemática, e de concepção visual asséptica que jogam o filme do diretor Donato Carrisi para o limbo das obras fáceis de ver e também fáceis de esquecer. Falta sutileza e tensão dramática consistente na encenação e mesmo na edição – repare-se, por exemplo, como uma música incidental ostensiva e constante deixa a narrativa com uma incômoda atmosfera rococó. Não que uma ambientação operística/barroca fosse necessariamente um defeito – é só pensar que Dario Argento adorava impregnar seus filmes com exageros barrocos extraordinários. Assim, falta para Carrisi um senso audiovisual mais apurado para justificar a sua pretensão de grandiosidade estética. E mesmo a tentativa de se realizar no subtexto do roteiro uma visão crítica sobre o fanatismo religioso e a falta de escrúpulos da mídia sensacionalista na sociedade moderna acaba se frustrando diante da superficialidade dos truques banais da trama com suas viradas rocambolescas e estapafúrdias.

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