Gostando-se ou não do resultado final de “Capitã Marvel”
(2019), pode-se entrar em consenso pelo menos com uma coisa em relação ao filme
– ele serve para mostrar que em termos musicais a década de 90 foi fodástica.
São tantas as pérolas rock e pop que aparecem ao longo da narrativa que isso
por si só já tornaria a mais nova produção dos estúdios Marvel um passatempo
bem agradável. Mas o filme dirigido por Anna Boden e Ryan Fleck consegue ter
outros atrativos convincentes para o espectador. As sequências iniciais podem
até parecem um tanto derivativas na asséptica e pouco original conjunção
efeitos especiais e direção de arte (dá uma impressão de refugo pouco inspirado
da saga “Star Wars”, o que é natural pelo fato das trucagens digitais serem de
responsabilidade da Industrial Light & Magic, a mesma da novela espacial de
George Lucas). É quando os skrulls entram em cena e a ação pouco depois passa
para o planeta Terra que a obra começa a se mostrar efetivamente divertida e
por vezes empolgante. Claro que dentro de um certo padrão de previsibilidade
dos estúdios Marvel, mas o que é já é acima da média quando se pensa nos
diversos abacaxis recentes das adaptações cinematográficas do Universo DC. O
filme se permite até a algumas leves e saudáveis alterações dentro de certos
parâmetros temáticos originais dos quadrinhos, principalmente na caracterização
da protagonista e dos skrulls, que se revelam bem funcionais para a produção.
Aliás, em termos de roteiro, a exposição de um discurso de empoderamento
feminino consegue ter coerência e alguma profundidade, não forçando a barra e
nem caindo na gratuidade. Essa questão sócio-comportamental, inclusive,
insere-se com naturalidade dentro do caráter de aventura escapista da obra. No
final das contas, pode-se ficar de bode com toda a dominação mercadológica
derivada de “Capitão Marvel” e da babação geek em volta da Marvel Estúdios, mas
pelo menos dá para se reconhecer que o filme não se limita a ser mero pretexto
para toda essa badalação comercial.
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