O diretor italiano Matteo Garrone volta a focar suas lentes
no submundo do crime em “Dogman” (2018), assim como tinha feito em “Gomorra”
(2008), sua obra mais célebre e que o tornou conhecido mundialmente. Se a obra
mais antiga tinha uma abordagem formal que emulava o documental e tinha um
escopo mais amplo na sua visão temática, em “Dogman” a narrativa tem caráter
intimista e se formata como um drama convencional, ainda que em termos estéticos
haja uma crueza audiovisual. O cenário de uma periferia marcada por um aspecto
arruinado e dominada pela contravenção é rústico e algo desolado e mesmo os
personagens tem uma caracterização entre o desglamourizado e a estilização
sórdida, tudo embalado, entretanto, por uma direção de fotografia que consegue
dar uma plasticidade insólita para o filme. O roteiro se desenvolve por
caminhos bem previsíveis, mas é mérito de Garrone saber extrair alguns momentos
de efetiva tensão dramática, além de um senso de humor flertando com o macabro.
Ponto positivo também para a forte química entre os dois principais atores
Marcello Fonte e Edoardo Pesce, interessante tanto por suas expressivas
performances quanto pelo contraste físico e psicológico entre os dois. Em um
contexto geral, o filme de Garrone é bem realizado, mas incomoda a falta de
maiores arroubos criativos ou de uma efetiva transcendência artística. A
decepção se justifica ainda mais quando se pensa em tantos clássicos do cinema
italiano que enveredaram para essa vertente do realismo social com resultando
bem mais memoráveis que “Dogman”.
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