quinta-feira, março 21, 2019

Gimme danger, de Jim Jarmusch ***


Para quem conhece a trajetória de Jim Jarmusch e gosta de Stooges, “Gimme danger” (2016) pode ser um tanto decepcionante. Jarmusch sempre demonstrou ter uma ligação forte com a música em seus filmes, vide obras memoráveis como “Trem mistério” (1989) e “Year of the horse” (1997). A carreira dos Stooges foi marcada por grandes doses de confusão, bizarrices e sordidez, matéria-prima que seria um prato cheio para um cineasta mais afeito à cultura underground como Jarmusch. O documentário que conta a história da banda, entretanto, peca por um tratamento por vezes excessivamente reverente e convencional, beirando o institucional. O terço final da narrativa, por exemplo, é um balde de água fria ao captar o processo de aceitação dos Stooges pelo establishment/mainstream, com direito, inclusive, a entrar no Rock and Roll Hall of Fame, premiação de viés ostensivamente conservador. Apesar de tais escorregadas, o filme ainda assim merece conferida por dois motivos óbvios: a música dos Stooges em seu período mais produtivo (segunda metade dos anos 60 e primeira dos 70) configura uma das melhores páginas da história do rock e Jarmusch é um diretor muito acima da média mesmo em trabalhos menos inspirados. Há farto e precioso material de arquivo a mostrar os anos loucos de existência dos Stooges, além de alguns depoimentos entre o cômico e o pungente de ex-integrantes, e em alguns momentos Jarchusch consegue dar uma dinâmica narrativa interessante para todo esse conteúdo. Ou seja, no mínimo “Gimme danger” consegue ser informativo e divertido.

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