Para quem conhece a trajetória de Jim Jarmusch e gosta de
Stooges, “Gimme danger” (2016) pode ser um tanto decepcionante. Jarmusch sempre
demonstrou ter uma ligação forte com a música em seus filmes, vide obras
memoráveis como “Trem mistério” (1989) e “Year of the horse” (1997). A carreira
dos Stooges foi marcada por grandes doses de confusão, bizarrices e sordidez,
matéria-prima que seria um prato cheio para um cineasta mais afeito à cultura
underground como Jarmusch. O documentário que conta a história da banda,
entretanto, peca por um tratamento por vezes excessivamente reverente e convencional,
beirando o institucional. O terço final da narrativa, por exemplo, é um balde
de água fria ao captar o processo de aceitação dos Stooges pelo
establishment/mainstream, com direito, inclusive, a entrar no Rock and Roll
Hall of Fame, premiação de viés ostensivamente conservador. Apesar de tais
escorregadas, o filme ainda assim merece conferida por dois motivos óbvios: a
música dos Stooges em seu período mais produtivo (segunda metade dos anos 60 e
primeira dos 70) configura uma das melhores páginas da história do rock e
Jarmusch é um diretor muito acima da média mesmo em trabalhos menos inspirados.
Há farto e precioso material de arquivo a mostrar os anos loucos de existência
dos Stooges, além de alguns depoimentos entre o cômico e o pungente de
ex-integrantes, e em alguns momentos Jarchusch consegue dar uma dinâmica
narrativa interessante para todo esse conteúdo. Ou seja, no mínimo “Gimme
danger” consegue ser informativo e divertido.
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