O diretor norte-americano Roger Corman geralmente é mais
lembrado como um cineasta capaz de realizar filmes bastante lucrativos operando
a partir de condições e recursos modestos ou mesmo por ter sido o produtor que
possibilitou os primeiros passos artísticos de uma série de importantes diretores
e atores ligados à “Nova Hollywood” (Francis Ford Coppola, Jack Nicholson,
Peter Bogdanovich). Por trás de tais credenciais, entretanto, há também o fato
de que Corman tinha também talento acima da média como diretor. Em boa parte de
sua filmografia fica evidenciada a capacidade de estabelecer narrativas seguras
e envolventes, além de inventivas soluções imagéticas e roteiros que sabiam
sintetizar de maneira insólita dramaticidade e ironia. “Um balde de sangue” (1959)
é exemplar enfático desse traço autoral de Corman. É de se reparar na forma
fluente com que tiração de sarro com a cultura beatnick, humor negro e algumas
ambiências de horror clássico convivem na mesma narrativa. O diretor transcende
as limitações e anacronismos dessa linhagem de produções e cria uma obra
repleta de desconcertantes nuances formais-temáticas, com destaque para a direção
de arte mista de caricatural e estilização, a ótima atuação de Dick Miller em
um raro papel de protagonista, as expressivas sequências finais de perseguição e
atmosfera e trama carregadas de comicidade macabra.
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