quarta-feira, março 06, 2019

Um balde de sangue, de Roger Corman ***1/2


O diretor norte-americano Roger Corman geralmente é mais lembrado como um cineasta capaz de realizar filmes bastante lucrativos operando a partir de condições e recursos modestos ou mesmo por ter sido o produtor que possibilitou os primeiros passos artísticos de uma série de importantes diretores e atores ligados à “Nova Hollywood” (Francis Ford Coppola, Jack Nicholson, Peter Bogdanovich). Por trás de tais credenciais, entretanto, há também o fato de que Corman tinha também talento acima da média como diretor. Em boa parte de sua filmografia fica evidenciada a capacidade de estabelecer narrativas seguras e envolventes, além de inventivas soluções imagéticas e roteiros que sabiam sintetizar de maneira insólita dramaticidade e ironia. “Um balde de sangue” (1959) é exemplar enfático desse traço autoral de Corman. É de se reparar na forma fluente com que tiração de sarro com a cultura beatnick, humor negro e algumas ambiências de horror clássico convivem na mesma narrativa. O diretor transcende as limitações e anacronismos dessa linhagem de produções e cria uma obra repleta de desconcertantes nuances formais-temáticas, com destaque para a direção de arte mista de caricatural e estilização, a ótima atuação de Dick Miller em um raro papel de protagonista, as expressivas sequências finais de perseguição e atmosfera e trama carregadas de comicidade macabra.

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