Num primeiro momento, o que mais salta aos olhos em “A
colina escarlate” (2015) é a grande gama de referências estéticas e textuais a
obras e estilos emblemáticos do gênero horror. O castelo que neva em seu
interior faz lembrar uma construção semelhante do “Drácula” (1931) de Tod
Browning, a trama que parece um pastiche de diversas produções clássicas da
Hammer, o erotismo latente que evoca filmes marcante do terror europeu dos anos
60 e 70. O que faz o trabalho de Guillermo Del Toro transcender a mera
reciclagem nostálgica é a forte pegada autoral do cineasta mexicano. Del Toro
filtra todas essas citações e influências e as reprocessa de forma muito
particular. Dessa forma, o que se tem na tela é uma revisão radical e por vezes
até delirante dos clichês e convenções mais básicos desse gênero. Se em boa
parte dessas obras de décadas atrás havia uma certa sutileza nos quesitos
violência e tabus morais, onde o recurso da sugestão era usado como princípio
básico da narrativa, no filme de Del Toro tal preceito é jogado para o espaço.
A estrutura de roteiro é clássica e até mesmo manjada nos seus conflitos e
viradas. Assim, o efeito do suspense não é exatamente o forte da obra em
questão. O que faz a diferença em ‘A colina escarlate” é o extremo requinte
concentrado na elaboração da atmosfera gótica, na plasticidade visual detalhista
e na narrativa de ritmo elegante e tenso. A conjunção da direção de fotografia
de tons barrocos e uso inspirado de efeitos visuais (o melhor design visual de
fantasmas dos últimos tempos!) se aliam de maneira orgânica com a brutalidade
explícita da sequencias de violência que beiram o gore e com uma ambientação
perturbadora no seu misto constante de ultrarromantismo e sordidez. Em perfeita
sintonia artística com as escolhas formais de Del Toro, as composições
dramáticas do elenco são antológicas em interpretações icônicas e expressivas,
com destaque absoluto para Jessica Chastain, antológica como vilã sedutora e
enlouquecida. Diante de todos esses acertos, “A colina escarlate” é o trabalho
mais equilibrado e impactante de Del Toro na sua combinação de virtuosismo
estilizado e obsessões temáticas.
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