A premissa de trama do documentário “O mundo em duas voltas”
(2006) é até interessante – estabelecer uma relação entre uma viagem de volta
ao mundo realizada por uma família brasileira e a mesma trajetória realizada de
forma pioneira por Fernão de Magalhães e suas naus em 1519. Para isso, a
narrativa entrecruza registros da viagem contemporânea com uma recriação
gráfica, quase uma HQ, da primeira jornada. O fato de um membro da família
viajante ser o diretor do filme, entretanto, acaba sendo determinante para que
a obra em questão seja bem frustrante. É claro que alguns sequencias são bem
interessantes ao captar a beleza natural dos diversos pontos ao redor do mundo
em que o barco dos Schürmann aportam e também em alguns momentos ao registrar
as dificuldades inerentes a uma aventura como essa, além do grafismo da
recriação da viagem de Magalhães ter um belo traço. Mas o que predomina mais ao
longo da narrativa é um tom asséptico e edificante, beirando o vídeo
institucional – não há conflito e dilemas nas histórias que envolvem os
Schürmann, tirando dessa forma qualquer possibilidade de uma tensão dramática
mais efetiva. Do jeito que ficou esse tratamento formal e temático despersonalizado,
a produção mais parece um anódino diário de férias de uma típica e fotogênica
família branca classe média alta, com direito a paisagens e costumes exóticos, do
que o retrato de uma aventura perigosa. De repente daria para ser tema de um
Fantástico ou Globo Repórter da vida, mas como experiência cinematográfica é
perfeitamente esquecível.
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