Uma dos aspectos mais admiráveis das adaptações
cinematográficas que o diretor britânico Joe Wright concebeu em “Orgulho e
preconceito” (2005) e “Anna Karenina” (2012) era a forma com que ele remodelou
os originais literários e os enquadrou dentro de narrativas audiovisuais
personalíssimas. Diante de tais experiências pregressas, não há como o
resultado final de “Peter Pan” (2015) não ser bastante frustrante. Isso porque
o filme em questão parece uma colcha de retalhos genérica e mal ajambrada de
uma série de preceitos formais e temáticos que tomaram os gêneros fantasia e
aventura nos últimos anos – a releitura de personagens clássicos mostrando suas
origens (a despeito daquilo que os autores originais tinham realmente em mente
quando criaram as figuras em questão), a inserção de elementos de cultura pop
contemporânea em histórias de época (à moda “Moulin Rouge”). O jeito com que
Wright combina tais tendências estéticas e textuais é bastante disparatado,
fazendo com que suas soluções criativas pareçam estar mais vinculadas a um
direcionamento mercadológico do que a inspirações artísticas. E mesmo a
encenação vigorosa e a utilização meticulosa dos recursos formais de fotografia
e edição, habituais na filmografia do cineasta e que tinham atingido ponto de
bala no magnífico “Hanna” (2011), acabam enterrados em nome de uma direção
burocrática e sem o menor traço autoral, sendo que o elenco tomado por atuações
sem carisma e densidade só faz tudo piorar ainda mais. Por vezes, até dá para
dizer que a beleza plástica de algumas sequências chama a atenção pela
qualidade das trucagens digitais, mais tais impressões são efêmeras e é até
vazias diante de uma narrativa tão truncada e sem vida. Assim, “Peter Pan” nunca
empolga, ficando reduzido a um amontoado medíocre e sem graça de clichês oportunistas
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