segunda-feira, outubro 26, 2015

Peter Pan, de Joe Wright *

Uma dos aspectos mais admiráveis das adaptações cinematográficas que o diretor britânico Joe Wright concebeu em “Orgulho e preconceito” (2005) e “Anna Karenina” (2012) era a forma com que ele remodelou os originais literários e os enquadrou dentro de narrativas audiovisuais personalíssimas. Diante de tais experiências pregressas, não há como o resultado final de “Peter Pan” (2015) não ser bastante frustrante. Isso porque o filme em questão parece uma colcha de retalhos genérica e mal ajambrada de uma série de preceitos formais e temáticos que tomaram os gêneros fantasia e aventura nos últimos anos – a releitura de personagens clássicos mostrando suas origens (a despeito daquilo que os autores originais tinham realmente em mente quando criaram as figuras em questão), a inserção de elementos de cultura pop contemporânea em histórias de época (à moda “Moulin Rouge”). O jeito com que Wright combina tais tendências estéticas e textuais é bastante disparatado, fazendo com que suas soluções criativas pareçam estar mais vinculadas a um direcionamento mercadológico do que a inspirações artísticas. E mesmo a encenação vigorosa e a utilização meticulosa dos recursos formais de fotografia e edição, habituais na filmografia do cineasta e que tinham atingido ponto de bala no magnífico “Hanna” (2011), acabam enterrados em nome de uma direção burocrática e sem o menor traço autoral, sendo que o elenco tomado por atuações sem carisma e densidade só faz tudo piorar ainda mais. Por vezes, até dá para dizer que a beleza plástica de algumas sequências chama a atenção pela qualidade das trucagens digitais, mais tais impressões são efêmeras e é até vazias diante de uma narrativa tão truncada e sem vida. Assim, “Peter Pan” nunca empolga, ficando reduzido a um amontoado medíocre e sem graça de clichês oportunistas

Nenhum comentário: