sexta-feira, outubro 02, 2015

O segredo da cabana, de Drew Goddard ***1/2

De todos os gêneros cinematográficos, talvez aquele que se encontra em uma encruzilhada criativa mais profunda é o horror. Diretores e roteiristas, com algumas exceções, não conseguem parecerem convincentes ao emular os mesmos e surrados clichês narrativos de sempre. A grande “novidade” que proliferou nos últimos anos é a cópia exaustiva da estética “realista” de “A bruxa de Blair” (1999) - e que em boa parte das oportunidades mais parece uma desculpa para esconder a incompetência formal e temática dos cineastas. “O segredo da cabana” (2011) é uma obra que foge dessa crise artística justamente por saber se aproveitar com criatividade e ironia perversa das fórmulas e truques mais manjados do gênero. O roteiro traz uma insólita trama que inicialmente se desenvolve a partir de premissas e resoluções já bastante conhecidas do público, mas que aos poucos começam a serem “envenenadas” com elementos de farsa e ficção científica. Há um detalhe fundamental, entretanto, que impede que o filme caia numa simples paródia – o diretor Drew Goddard consegue criar uma atmosfera efetiva de tensão, assim como mostra uma sensibilidade imagética aguçada numa encenação que privilegia uma violência gráfica impactante e trucagens que combinam de forma magistral técnicas tradicionais e efeitos digitais. Com o transcorrer da narrativa, de forma sutil e orgânica, as convenções do gênero vão sendo pervertidas, resultando num bizarro conto que evidencia fascinantes referências do universo fantástico tanto do cinema quanto da literatura (a apoteótica e devastadora conclusão da produção, por exemplo, é uma excelente transposição de conceitos lovecraftianos para o cinema).

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