De todos os gêneros cinematográficos, talvez aquele que se
encontra em uma encruzilhada criativa mais profunda é o horror. Diretores e roteiristas,
com algumas exceções, não conseguem parecerem convincentes ao emular os mesmos
e surrados clichês narrativos de sempre. A grande “novidade” que proliferou nos
últimos anos é a cópia exaustiva da estética “realista” de “A bruxa de Blair”
(1999) - e que em boa parte das oportunidades mais parece uma desculpa para
esconder a incompetência formal e temática dos cineastas. “O segredo da cabana”
(2011) é uma obra que foge dessa crise artística justamente por saber se
aproveitar com criatividade e ironia perversa das fórmulas e truques mais
manjados do gênero. O roteiro traz uma insólita trama que inicialmente se
desenvolve a partir de premissas e resoluções já bastante conhecidas do
público, mas que aos poucos começam a serem “envenenadas” com elementos de
farsa e ficção científica. Há um detalhe fundamental, entretanto, que impede
que o filme caia numa simples paródia – o diretor Drew Goddard consegue criar
uma atmosfera efetiva de tensão, assim como mostra uma sensibilidade imagética
aguçada numa encenação que privilegia uma violência gráfica impactante e trucagens
que combinam de forma magistral técnicas tradicionais e efeitos digitais. Com o
transcorrer da narrativa, de forma sutil e orgânica, as convenções do gênero
vão sendo pervertidas, resultando num bizarro conto que evidencia fascinantes
referências do universo fantástico tanto do cinema quanto da literatura (a
apoteótica e devastadora conclusão da produção, por exemplo, é uma excelente
transposição de conceitos lovecraftianos para o cinema).
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