quarta-feira, outubro 07, 2015

Perdido em Marte, de Ridley Scott **

A equação ficção científica mais Ridley Scott sempre vai ser promissora. Só que com “Perdido em Marte” (2015) ela já não se mostra mais infalível. Dá até para dizer que os 15 minutos iniciais do filme, que se desenvolvem exclusivamente em Marte, até animam em sua concepção cênica – a encenação é sóbria, dá para sentir um clima de suspense mais palpável, até a trilha sonora emula uma espécie de drones sombrios. Quando a ação passa a envolver também personagens na Terra, entretanto, tudo isso que se insinuava de forma positiva se desvanece e essa produção mais recente de Scott cai na vala comum.


Talvez o que haja de mais relevante em “Perdido em Marte” não esteja propriamente relacionada ao seu roteiro ou a sua estética. O que chama mais atenção são alguns dados sociológicos e políticos que constam na trama – negros e latinos ocupam funções de destaque na NASA, as agências espaciais chinesa e norte-americana colaboram em nome do bem comum, mulheres têm papéis proativos, o papel da ciência e do conhecimento é mais valorizado em detrimento de misticismos e afins. Ainda que partindo de uma necessidade de ser politicamente correto, tais elementos da história até revelam um certo traço de ousadia. Mas qualquer sinal de maior criatividade acaba parando nesse ponto. Incomoda bastante no filme a despersonalização formal e assepsia na condução da narrativa, o que acaba sendo bem decepcionante em relação a um diretor com uma filmografia tão expressiva quanto Scott. Ao invés daquela tenebrosa e assustadora atmosfera gótica de “Alien – O oitavo passageiro” (1979) e “Prometheus” (2012) ou da rica caracterização imagética misturando alta tecnologia e sordidez de “Blade Runner” (1982), fica uma concepção visual sem graça e genérica, beirando uma fotogenia derivativa. A encenação é bem comportada e previsível, fazendo com que poucas vezes haja uma tensão dramática mais efetiva. Por várias vezes o protagonista Mark Watney (Matt Damon) parece mais se comportar como se estivesse numa colônia de férias do que propriamente alguém que está isolado em um planeta inóspito. Pode ser que a intenção fosse justamente essa, reforçar o lado fodão de um típico astronauta norte-americano... Além disso, as soluções encontradas para os principais dilemas e conflitos da trama são pueris e apressadas, fazendo a obra mais parecer um episódio meia-boca de “Profissão perigo” do que uma ficção científica cinematográfica de primeira linha. Aliás, diante de tais escolhas criativas, talvez um título melhor para o filme fosse “Férias frustradas de MacGyver em Marte”.

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