O diretor Peter Bogdanovich sempre nutriu uma grande paixão
pelo cinema clássico norte-americano da primeira metade do século XX. Antes de
se tornar cineasta, dedicou matérias e ensaios sobre filmes e diretores que
admirava. Mesmo seus próprios filmes refletem esse seu amor por tais
filmografias e artistas, deixando isso claro em termos de estéticas,
influências, citações e referências. Após um longo período sem aparecer com
alguma nova produção nas telas, Bogdanovich retoma com a mesma pegada
reverencial e algo nostálgica em “Um amor a cada esquina” (2013). Nesse
trabalho, talvez o nome que mais venha à mente seja o de Howard Hawks,
principalmente com aquelas comédias amalucadas cheia de quiproquós como “Levada
da Breca” (1938) e “Jejum de amor” (1940), além de alguns diálogos espirituosos
evocarem o encanto das produções cômicas de Ernest Lubitsch (aliás, um de seus
filmes, “Cluny Brown”, é citado diretamente no roteiro). O fascinante no
formato narrativo concebido por Bogdanovich é que tudo pode parecer um tanto
aleatório e pueril, mas na verdade tem por trás uma encenação bastante
meticulosa tanto no desenvolvimento das situações do roteiro quanto nos
relacionamentos que se estabelecem entre os personagens, contando ainda com uma
azeitada direção de atores (Jennifer Aniston tem aqui a sua mais convincente
atuação no cinema e Imogem Poots com seu misto de doçura e ironia faz lembrar
mitos como Audrey Hepburn e Claudette Colbert). Tais truques formais e
temáticos podem até soar a princípio anacrônicos, mas aos poucos vão conferindo
ao filme uma atmosfera atemporal e de irrealidade sedutora (vide as hilárias
coincidências que permeiam toda a trama).
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