terça-feira, outubro 20, 2015

Lulu, nua e crua, de Solveig Aspach **

O roteiro de “Lulu, nua e crua” (2013) tem um certo caráter de contestação ao mostrar a história de uma mulher que entra em uma espécie de crise existencial e resolve se afastar da família por alguns dias e ficar perambulando pelas ruas de cidadezinhas do interior da França. Nesse período, acaba se envolvendo com desajustados e passa a reavaliar os valores morais que sempre permearam sua vida. Tal premissa de trama até poderia render uma obra inquietante, mas a abordagem da diretora Solveig Aspach é tão burocrática que acaba esvaziando qualquer possibilidade de ousadia que o filme poderia ter. Por vezes até transparece um certo traço de elegância na maneira de filmar da diretora. Insinua-se um estilo reflexivo e naturalista em sua encenação. Com o desenrolar da narrativa, entretanto, essas promessas acabam se mostrando ilusórias. Tais elementos estéticos são jogados na tela e não conseguem se cristalizar a ponto de gerar interesse ou inquietação por parte do espectador. Aspach não consegue dar um estofo dramático suficiente capaz de gerar tensão ou empatia pela história ou pelos personagens. O trio de desocupados que se tornam amigos de Lulu (Karin Viard), um deles sendo até amante dela, por exemplo, recebe uma caracterização caricata e sem profundidade psicológica, mais parecendo um grupo de “amiguinhos fofinhos e sujinhos” da personagem principal do que seres humanos críveis. Mesmo o elemento sensual que ocasionalmente aparece vem sempre em uma perspectiva casta e envergonhada. Por mais que a obra transmita um desconforto com alguns padrões comportamentais da sociedade, tudo é passado sob um filtro de superficialidade e insipidez, fazendo a narrativa mais parecer algum vídeo motivacional de autoajuda do que uma obra cinematográfica propriamente dita.

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