O roteiro de “Lulu, nua e crua” (2013) tem um certo caráter
de contestação ao mostrar a história de uma mulher que entra em uma espécie de
crise existencial e resolve se afastar da família por alguns dias e ficar
perambulando pelas ruas de cidadezinhas do interior da França. Nesse período,
acaba se envolvendo com desajustados e passa a reavaliar os valores morais que
sempre permearam sua vida. Tal premissa de trama até poderia render uma obra
inquietante, mas a abordagem da diretora Solveig Aspach é tão burocrática que
acaba esvaziando qualquer possibilidade de ousadia que o filme poderia ter. Por
vezes até transparece um certo traço de elegância na maneira de filmar da
diretora. Insinua-se um estilo reflexivo e naturalista em sua encenação. Com o
desenrolar da narrativa, entretanto, essas promessas acabam se mostrando ilusórias.
Tais elementos estéticos são jogados na tela e não conseguem se cristalizar a
ponto de gerar interesse ou inquietação por parte do espectador. Aspach não
consegue dar um estofo dramático suficiente capaz de gerar tensão ou empatia
pela história ou pelos personagens. O trio de desocupados que se tornam amigos
de Lulu (Karin Viard), um deles sendo até amante dela, por exemplo, recebe uma
caracterização caricata e sem profundidade psicológica, mais parecendo um grupo
de “amiguinhos fofinhos e sujinhos” da personagem principal do que seres
humanos críveis. Mesmo o elemento sensual que ocasionalmente aparece vem sempre
em uma perspectiva casta e envergonhada. Por mais que a obra transmita um desconforto
com alguns padrões comportamentais da sociedade, tudo é passado sob um filtro
de superficialidade e insipidez, fazendo a narrativa mais parecer algum vídeo
motivacional de autoajuda do que uma obra cinematográfica propriamente dita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário