O diretor chinês Zhang Yang tinha demonstrando habilidade
narrativa razoável no envolvente “Banhos” (1999). Assim, seu nome aparecendo
como diretor de “O ciclo da vida” (2012) acabava por chamar atenção especial
para a produção. As sequenciais iniciais desse filme mais recente por sua vez
pareciam confirmar as boas expectativas, ao fazer um registro entre a crueza e
a sensibilidade registrando o dia-a-dia melancólico e sereno num asilo de
idosos. Essas positivas impressões, entretanto, caem por terra com o desenrolar
da narrativa. As opções estéticas e de roteiro se revelam equivocadas,
desprovendo o filme de qualquer resquício de sutileza e efetiva densidade dramática.
Os idosos personagens principais recebem uma caracterização caricatural – são criaturas
unidimensionais, quase como seres bonzinhos e fofinhos que sofrem uma
discriminação incompreensível da sociedade. Os conflitos e dilemas da trama são
expostos de forma ostensiva e maniqueísta em diálogos e situações que
desconhecem a sobriedade e a contenção, o que acaba resultando numa encenação
artificiosa, beirando o infantil (no mau sentido da palavra). Em vários
momentos as falas dos personagens mais parecem textos institucionais a proferirem
intermináveis lições de vida. É claro que o aspecto sentimental tem uma preponderância
inevitável em boa parte das obras que aborde a questão da velhice e do
abandono, vide algumas produções marcantes da história do cinema. O problema de
“O ciclo da vida” é que se confunde esse lado sentimental com pura pieguice
oportunista, fazendo com que o filme de Yang mais pareça um novelão mexicano de
lágrimas fáceis e manipuladoras.
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