Dentro do gênero giallo, “Todas as cores da escuridão”
(1972) se mostra como um exemplar bem característico dessa linhagem de filmes.
Apesar de não estar no mesmo nível artístico de Dario Argento e Mario Bava, o
diretor Sergio Martino explora de forma bastante inspirada e radical vários
preceitos formais do gênero – a composição cênica exagerada e beirando o
barroco, a forte violência gráfica, as caracterizações um tanto canastronas de
boa parte do elenco. Mas se por um lado o filme de Martino é um giallo
emblemático, por outro a obra se permite alguns marcantes diferenciais
estéticos e temáticos. Para começar, a trama evoca uma tendência maior para o
sobrenatural ao envolver satanistas e delírios oníricos. Se normalmente a
maioria das produções de giallo se apresenta como um reflexo distorcido dos ditames
cinematográficos de Alfred Hitchcock, “Todas as cores da escuridão” parece um
inventário algo doentio do clima “the dream is over” do início dos anos 70 (a
ressaca moral e existencial dos esperançosos anos 60). É só reparar que os coloridos
e impressionistas sonhos da protagonista Jane (Edwige Fenech) são permeados por
um insólito clima psicodélico, além da excelente trilha sonora ser composta
basicamente por pastiches de rock sessentista psicodélico. Além disso, a trama
é bastante inspirada na obra-prima “O bebê de Rosemary” (1968) e nos sinistros
fatos reais de assassinato de Sharon Tate e amigos pelos seguidores de Charles
Mason. Para quem acha que filme de terror se resume a essas atuais produções
assépticas e descerebradas destinadas ao público adolescente (com honrosas
exceções como “Corrente do mal”), essa pequena joia concebida por Martino é uma
demonstração enfática das possibilidades criativas do horror.
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