No atual contexto sócio-político tanto nacional quanto
internacional, a produção cubana “Numa escola de Havana” (2014) ganha uma
perspectiva humanista diferenciada a partir da visão de mundo que o diretor
Ernesto Daranas deixa clara na trama do filme. Dentro de uma conjuntura em que
setores conservadores da sociedade civil, políticos oportunistas e religiosos
fundamentalistas clamam pela redução da maioridade penal e o aumento no rigor
de aplicação de penas para jovens infratores, a obra de Daranas expõe um olhar
tolerante e complexo sobre a infância e a adolescência inserida num cotidiano
de pobreza e privações diversas. O roteiro não expõe soluções fáceis para o
destino do jovem protagonista Chala (Armando Valdes Freire) e nem caracteriza o
personagem através de estereótipos e idealizações – Chala por diversos momentos
é francamente desagradável e teimoso em seu comportamento. Essa dureza na concepção
do personagem e de algumas situações é necessária justamente para realçar a
importância de uma abordagem mais humana e racional na condução da questões
envolvendo menores em condição de vulnerabilidade social e econômica. Nesse
sentido, a figura da veterana professora Carmela (Alina Rodrigues) ganha uma
conotação simbólica nas suas atitudes de enfrentamento contra a insensibilidade
e o caráter obtuso da burocracia educacional. Mas se nesse âmbito temático “Numa
escola de Havana” se revela contundente, em termos formais não vai muito além
dentro da estrutura clássica de melodrama. A encenação concebida por Daranas é
apenas correta, chegando por vezes à beira do enfadonho. A narrativa evoca algo
do clássico “Os incompreendidos” (1959), obra emblemática a retratar uma
juventude conturbada e rebelde. É óbvio, entretanto, que Daranas está longe de
ter a classe e inventividade estéticas de um Truffaut.
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