quinta-feira, outubro 29, 2015

Numa escola de Havana, de Ernesto Daranas **1/2

No atual contexto sócio-político tanto nacional quanto internacional, a produção cubana “Numa escola de Havana” (2014) ganha uma perspectiva humanista diferenciada a partir da visão de mundo que o diretor Ernesto Daranas deixa clara na trama do filme. Dentro de uma conjuntura em que setores conservadores da sociedade civil, políticos oportunistas e religiosos fundamentalistas clamam pela redução da maioridade penal e o aumento no rigor de aplicação de penas para jovens infratores, a obra de Daranas expõe um olhar tolerante e complexo sobre a infância e a adolescência inserida num cotidiano de pobreza e privações diversas. O roteiro não expõe soluções fáceis para o destino do jovem protagonista Chala (Armando Valdes Freire) e nem caracteriza o personagem através de estereótipos e idealizações – Chala por diversos momentos é francamente desagradável e teimoso em seu comportamento. Essa dureza na concepção do personagem e de algumas situações é necessária justamente para realçar a importância de uma abordagem mais humana e racional na condução da questões envolvendo menores em condição de vulnerabilidade social e econômica. Nesse sentido, a figura da veterana professora Carmela (Alina Rodrigues) ganha uma conotação simbólica nas suas atitudes de enfrentamento contra a insensibilidade e o caráter obtuso da burocracia educacional. Mas se nesse âmbito temático “Numa escola de Havana” se revela contundente, em termos formais não vai muito além dentro da estrutura clássica de melodrama. A encenação concebida por Daranas é apenas correta, chegando por vezes à beira do enfadonho. A narrativa evoca algo do clássico “Os incompreendidos” (1959), obra emblemática a retratar uma juventude conturbada e rebelde. É óbvio, entretanto, que Daranas está longe de ter a classe e inventividade estéticas de um Truffaut.

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