quarta-feira, fevereiro 15, 2017

Toni Erdmann, de Maren Ade ***

As premissas da trama e mesmo o aparente subtexto de “Toni Erdmann” (2016) podem sugerir um aparente convencionalismo formal-temático, em que a história do relacionamento difícil entre Winfried (Peter Simonischek), um extrovertido e meio amalucado aposentado, e sua filha Ines (Sandra Hüller), executiva de uma consultoria internacional, se relaciona de forma simbólica, e por vezes até mesmo direta, com o cenário sócio-político de avanço do poder econômico de grandes corporações e a precarização das relações de trabalho no continente europeu (e por tabela, do resto do mundo). Ocorre, entretanto, que de forma sutil no desenrolar da narrativa a diretora Maren Ade vai descontruindo essa concepção artística tradicional através de insólitos truques estéticos e episódios desconcertantes no roteiro. Há avanços abruptos no aspecto temporal da trama, como se o filme buscasse uma narrativa descarnada e direta, além de uma atmosfera de constante estranhamento, em que os clichês do gênero melodrama são pervertidos com cruel ironia em um clima de comédia de absurdo. No primeiro terço da obra, tais soluções artísticas da cineasta demoram a apresentar uma fluência narrativa, mas lá pela metade do filme a esquisitice e o inesperado tomam conta de vez, fazendo com que “Toni Erdmann” se desenvolva numa ambientação algo alucinada, por vezes até beirando o nonsense, ainda que encenação e montagem tenham uma execução metódica e sem sobressaltos. Dentro dessas particulares concepções, o grande ápice criativo da produção é a antológica sequência da festa de aniversário de Ines, em que a personagem surta de vez, evidenciando uma sensação de perplexidade diante do absurdo da condição humana no mundo contemporâneo.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Muito show o filme