Depois de se aventurar por drama de época (“Destinos
sentimentais”), policial (“Clean”) e memorialismo (“Depois de maio”), o diretor
francês Olivier Assayas voltar a enquadrar o cinema de gênero dentro de seus
peculiares padrões autorais. Em “Personal shopper” (2016), o cineasta envereda
pelos preceitos do horror sobrenatural e os recicla dentro de uma narrativa que
versa sobre alienação e vazio existencial. Pode até parecer pretensioso em suas
intenções artísticas, mas o resultado final é orgânico e contundente. Roteiro e
encenação obedecem a um padrão estético e existencial marcado pelo rigor e pela
coerência, em que alguns clichês formais e temáticos do gênero fantástico
(casas assombradas, espíritos desajustados) vão se moldando dentro de um
formato misto de conto moral e crônica de costumes. Essa abordagem artística de
Assayas tem uma ambiguidade ora atraente, ora perturbadora, fazendo com que o
filme utilize signos visuais que aludem à modernidade, tanto nos aspectos
tecnológicos quanto nos padrões de beleza, para reforçar uma ideia de
fascinação por alguns prazeres mundanos. Diferente da patética glorificação do
materialismo perpetrada por “Cinquenta tons de cinza” (2015), entretanto, tal
direcionamento narrativo tem a função de caracterização do ambiente que
circunda a protagonista Maurenn (Kristen Stewart), mostrando os aspectos
contraditórios de sua personalidade que trafegam no limite entre o intimismo de
seus desejos e inquietações pessoais e a sua vivência social/profissional.
Nesse sentido, a visão da obra sobre o metafísico se distancia bastante das
obviedades moralistas e maniqueístas, em que a vontade de Maurenn em contatar
com o irmão falecido esconde de maneira sutil a sua incapacidade de lidar de
forma lúcida com a realidade fática em sua volta, evidenciada, principalmente,
na forma com que a personagem é envolvida na sórdida trama de sexo, dinheiro e
assassinato entre a sua empregadora e o amante.
Um comentário:
Adorei o final
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