Pelo menos em termos da concepção e realização de seus
filmes, dá para dizer que o diretor Doug Liman é um grande admirador da obra de
Martin Scorsese. “Swingers” (1996), um de seus primeiros longas e talvez o seu
melhor trabalho como cineasta, fazia uma explícita homenagem à “Os bons
companheiros” (1990), uma das mais expressivas obras-primas de Scorsese, na
sequência em que um grupo de amigos atravessava as portas de serviços de um
restaurante para demonstrar o seu poder de influência. Em “Feito na América”
(2017), recente produção dirigida por Liman, essa aproximação com a aludida
influência se mostra novamente evidente. Roteiro e estrutura narrativa remetem
diretamente a filmes como “Os bons companheiros” e “O lobo de Wall Street”
(2013) – tramas baseadas em histórias reais mostrando as conturbadas
trajetórias pessoais de protagonistas que atingiram grandes picos de riqueza econômica
ao transitarem em um tênue limite entre a livre-iniciativa e a franca bandidagem,
em abordagens que trazem em seu subtexto uma visão crítica e irônica sobre a
relação intrínseca entre capitalismo e ilicitudes. No caso da obra de Liman, a
biografia do piloto de avião Barry Seal (Tom Cruise), misto de agente da CIA e
traficante de drogas, também traz à tona segredos obscuros da política
internacional dos Estados Unidos na era Reagan. Liman não tem o mesmo nível
artístico de Scorsese, que transformou seus citados filmes em vertiginosas
viagens sensoriais sobre a ambição humana e degradação ética – Liman é mais
tradicionalista e previsível na condução de sua narrativa. Ainda assim, “Feito
na América” tem momentos memoráveis, principalmente nas sequências de ação e na
boa caracterização de Cruise no papel principal. Aliás, em termos de ação
cinematográfica, não há como não fazer uma outra associação com Scorsese na
obra em questão nas divertidas cenas em que Seal aterrissa seu avião no meio de
uma cidadezinha do interior, evocando uma cena parecida em “O aviador” (2004).
Um comentário:
Esse filme tem dividido muito as opiniões e ultimamente não tenho gostado muito do trabalho de Ton Cruise. Mas quem sabe eu venha arriscar em assistir.
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