O personagem literário Parker, criado pelo escritor Richard
Stark e protagonista de vários livros do autor, apareceu em algumas marcantes
produções cinematográficas. A mais conhecida e prestigiada foi no clássico “À
queima-roupa” (1967), de John Boorman. A caracterização mais complexa e
humanizada do personagem, entretanto, encontra-se em “A quadrilha” (1973). Pode
parecer um contrassenso isso, afinal a interpretação de Robert Duvall no papel
principal é quase minimalista em termos de diálogos, expressões e gestual.
Ocorre que essa atuação se afasta dos estereótipos do tradicional anti-heróis
de produções policiais, e mais enfatiza uma brutalidade inerente a uma condição
existencial dessa figura. O pragmatismo inabalável, o rígido senso de honra de
bandido e as atitudes violentas representam um modo de agir que é único
conhecido pelo protagonista, e não uma condição para se mostrar cool diante das
situações extremas de perigo. Nesse sentido, a própria compleição física em
cena de Duvall foge do habitual para esse tipo de personagem. Esse dado sobre a
figura de Parker em si (na verdade, no filme seu nome é Macklin) revela muito
da própria concepção conceitual que o diretor John Flynn coloca em prática no
filme – a narrativa é descarnada, reduzida a uma essência de encenação e
formalismos marcada pela crueza e precisão, e que aliada a uma atmosfera amoral
e desolada configurou um traço artístico fundamental no melhor que o cinema
policial setentista produziu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário