segunda-feira, abril 16, 2018

A quadrilha, de John Flynn ****


O personagem literário Parker, criado pelo escritor Richard Stark e protagonista de vários livros do autor, apareceu em algumas marcantes produções cinematográficas. A mais conhecida e prestigiada foi no clássico “À queima-roupa” (1967), de John Boorman. A caracterização mais complexa e humanizada do personagem, entretanto, encontra-se em “A quadrilha” (1973). Pode parecer um contrassenso isso, afinal a interpretação de Robert Duvall no papel principal é quase minimalista em termos de diálogos, expressões e gestual. Ocorre que essa atuação se afasta dos estereótipos do tradicional anti-heróis de produções policiais, e mais enfatiza uma brutalidade inerente a uma condição existencial dessa figura. O pragmatismo inabalável, o rígido senso de honra de bandido e as atitudes violentas representam um modo de agir que é único conhecido pelo protagonista, e não uma condição para se mostrar cool diante das situações extremas de perigo. Nesse sentido, a própria compleição física em cena de Duvall foge do habitual para esse tipo de personagem. Esse dado sobre a figura de Parker em si (na verdade, no filme seu nome é Macklin) revela muito da própria concepção conceitual que o diretor John Flynn coloca em prática no filme – a narrativa é descarnada, reduzida a uma essência de encenação e formalismos marcada pela crueza e precisão, e que aliada a uma atmosfera amoral e desolada configurou um traço artístico fundamental no melhor que o cinema policial setentista produziu.

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